domingo, agosto 31, 2008

UMA VERSÃO RECICLADA DO FIM DA HISTÓRIA

Parece não haver cura para os esforços profetizadores de Francis Fukuyiama.
Depois de errar clamorosamente com o anúncio do fim da História e a vitória incontestada da sua versão de democracia - aquela em que os órgãos de poder e de comunicação social estão concentrados na posse da classe empresarial, assim dotada dos meios julgados necessários para controlar esse statu quo - o guru da direita ocidental vem anunciar a derrota iminente dos autocratas do tipo Putin ou Chavez.
Quanto mais não seja esta nova preocupação de Fukuyiama demonstra bem os incómodos, que os novos senhores do Kremlin ou o líder venezuelano estão a suscitar nos desconsolados epígonos da defunta pax americana.
O que o ideólogo da Administração Reagan e actual professor Universidade Johns-Hopkins em Washington continua a não compreender é a completa subversão da lógica política mundial com o advento das economias emergentes e com a necessidade de garantir novos equilíbrios através de redobrados esforços de negociação.
Que a União Europeia esteja a ser arrastada por uma visão maniqueísta das realidades internacionais, com os russos a fazerem o papel de maus e os Saakashvilis de virtuosos democratas, eis uma grave tendência, que se pode vir a pagar muito caro.
Infelizmente um órgão supranacional, que tem em Durão Barroso o seu líder, não precisa de se caracterizar melhor. Essa liderança revela bem o quão distantes nos encontramos da época em que Jacques Delors personificava por si mesmo um projecto europeu, assente numa lógica federalista e unificadora capaz de transformar a União numa verdadeira superpotência capaz de contrabalançar o poderio das demais.
Impotente nas suas contradições, incompetente à conta da mediocridade dos seus principais governantes (Sarkozy, Merkel, Brown, Berlusconi e uns tantos mais), a União Europeia tenta tornar credíveis as palavras de Fukuyama na expectativa de regressar aos «good old days» em que a História parecia definitivamente escrita e os negócios dos principais oligopólios ocidentais poderiam prosseguir a recato de quaisquer grandes ameaças.
Helás! Tal qual a sua defunta, mas mediática teoria, a actual revisão dela publicada nos jornais desta semana, fará Fukuyama provar, uma vez mais, uma fama de Zandinga. Porque a Rússia veio mesmo para ficar, a China está cada vez mais forte no seu crescimento económico e militar, a Índia e o Brasil vão fazendo o seu caminho e a velha Europa, se não quiser ficar para trás só tem de rejuvenescer os seus líderes e agarrar-se à única hipótese de ser actuante no futuro, que aí vem: a de se dissociar de conceitos neoconservadores e regressar à lógica de uma grande potência entre o Atlântico e os Urais…
O que significa negociar com a Rússia em vez de a diabolizar!

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