O que representa a Serra da Estrela no nosso subconsciente colectivo?
Em meninos ouvimos falar da bravura de Viriatos e Sertórios, capazes de darem a volta ao miolo dos bem organizados romanos, impedindo-os, anos a fio, de aqui cumprirem a sua colonizadora ideia de civilização.
Já então esta gente era tão teimosa quanto rude. Como se a rijeza dos granitos forjasse os tecidos de que são feitos os seus ossos e as suas carnes e o rigor das invernias acentuasse essa tendência para se fecharem entre as cumeadas, vendo com desconfiança quem a elas aportava.
E, no entanto, grandes eram as riquezas aqui produzidas: já na sua «Tragicomédia Pastoril da Serra da Estrela» Gil Vicente punha uma personagem - Serra - a listar a profusão de animais e produtos deles derivados com que poderia obsequiar os reis de então em preito de vassalagem pelo nascimento da infanta D. Maria.
Em anos mais próximos de nós radicava-se aqui uma forte indústria de lanifícios, que transformou em operários, quem só tinha até então os campos para trabalhar.
E, depois, foi o inevitável apelo das lonjuras. Primeiro para as promessas de vida fácil da cidade que, tão só esfumadas, deram origem a um fluxo de gentes daqui para tantas diásporas.
A Serra ficou ameaçada de abandono. Tanto mais que nem a altura dos seus cumes possibilitava a espessura das neves procuradas por turistas de Inverno para os seus tombos nos esquis.
A Serra tornou-se, assim, o local de atracção estival das excursões de fim-de-semana de grupos de pelintras ou de episódicas visitas de uma pequena-burguesia aí apostada em pisar, por uma vez, o proclamado sítio mais alto do país.
E, no entanto, a tal como o resto do planeta, também a Serra se move. E torna-se mais atractiva mediante investimentos destinados a um mercado mais abonado, capaz de sustentabilizar uma ocupação contínua dos seus equipamentos hoteleiros…
Há dias, na televisão, dizia-se que a Serra está com muitos mais visitantes neste Verão. Que as camas de hotéis estão quase esgotadas!
Prémio merecido para quem nos convida a descobrir cenários que nos tolhem a respiração, tão belos são.
E que valem a pena ser explorados mais do que episodicamente numa vida, que se quer preenchida...
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