terça-feira, agosto 19, 2008

Casa das Penhas Douradas (6)

O maior obstáculo a uma eventual vontade de mudança para a Serra é a distância a que fica do litoral.
Não é impunemente que se nasce e cresce junto ao mar, que durante anos nele se mergulha para ganhar o sustento e, mesmo depois, já dele perdidas as graças, que não se o deixa de pressentir bem perto no voo cauteloso das gaivotas sobre o tecido urbano, quando se lhe adivinha grossa tempestade.
Por razão fundamentada se passou a designar por Beira Interior o que antes nos ensinaram como sendo Beira Alta ou Beira Baixa.
O que distingue estas terras de grandes contrastes entre montes e vales é esse divórcio da orla maríima. Mesmo que para ela lhe envie as águas dos rios, que brotam das suas nascentes!
Não lhe faltam, pois, essas águas aqui e ali recolhidas em represas, que simulam vastos espelhos azuis à volta dos quais balem as ovelhas e os carneiros.
Mas são espelhos com fronteiras bem demarcadas, que nunca dão azo à sensação de infinito colhida nas praias atlânticas. Se nestas se pode metaforizar a liberdade sem entraves, nas paisagens serranas colhe-se o pressentimento claustrofóbico de sobrarem limites. E a própria cor do granito evoca uma austeridade luterana, feita de medos e preconceitos.
É por isso que não acederia facilmente a uma vida na Serra. Por muito que se revelem agradabilíssimos os dias de férias aí vividos.

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