sábado, agosto 23, 2008

RUBEM FONSECA: «A CONFRARIA DOS ESPADAS»

O primeiro conto do livro é elucidativo sobre o conteúdo misógino de alguns textos de Rubem Fonseca. Através das cartas de um assassino de mulheres para a sua provável vítima seguinte questionamo-nos sobre as razões psicológicas assumidas por algumas pessoas para quem a sua morte, através de um qualquer ritual, corresponde a uma certa forma de realização.
Sacrifícios religiosos houve-os em diversas civilizações ao longe de toda a História da Humanidade. Ainda hoje, sob a forma de terroristas suicidas persiste essa forma extrema de dar sentido à vida, nem que seja em prol de uma causa política ou religiosa, já que se prometem recompensas indizíveis num mirífico Além.
Mas, mesmo nas nossas sociedades menos fanatizadas, dominadas pelo racionalismo cartesiano, que razão poderá levar um homem a dar-se a outro a comer literalmente como sucedeu ainda não há muitos anos na Alemanha?
Não posso, pois, compreender esta forma de livre arbítrio, que motiva as vítimas do narrador do conto do mesmo nome a se tornarem cúmplices da sua obsessão. Tanto mais, que terão passado pelas exigentes provas de pré-selecção a que ele as terá submetido e que comprovou o quanto elas prezavam a vida e a quanto nela se sentiam felizes.
É o absurdo sob a forma mais incompreensível. Ainda que o conto sirva igualmente para confirmar o domínio superlativo do autor quanto ao uso da nossa língua.

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