sábado, janeiro 26, 2019

(PtE) Extinções passadas e previsivelmente futuras


Não tivessem os homens exercido ofício de predadores, e a ave-elefante de Madagáscar, ou as neozelandesas moas, teriam chegado aos nossos dias. Volumosas nos seus quinhentos e duzentos quilos, respetivamente, não sabiam voar, nisso imitando as congéneres ratites ainda nossas conhecidas (avestruzes, nandus, emas, casuares e kwis). Daí terem sido mais facilmente caçadas até à extinção.
Num dos seus documentários David Attenborough mostrou-lhes os esqueletos assim exemplificando como estamos a empobrecer a Natureza do planeta, tornando-o exclusivo habitat de uma espécie humana demasiado numerosa e estupidamente destrutiva.
Por estes dias António Guterres alertava para a possibilidade de estar iminente o ponto de não retorno em que o planeta se condena a apocalítico e infeto destino. Deveríamos estar, por esta altura, a concretizar uma estratégia global de controle da demografia e de determinada redução das emissões nocivas para a atmosfera. Mas isso pressuporia já termos morto e enterrado este capitalismo, que não se limita a explorar-nos, porque também nos mata!
A sensação de impotência perante o expetável desastre não deverá ser muito diferente da dos judeus, que viram os nazis chegarem ao poder em 30 de janeiro de 1933 e logo acelerarem na sua consolidação à custa de doses maciças de propaganda. Que terão sentido, quando percorriam as ruas engalanadas de suásticas, e procuravam ser tão invisíveis quanto possível, porque  qualquer mau encontro, ou imprudência lhes poderia custar a vida às mãos de um bando de rufiões? Em 1939 a Universidade de Harvard quis saber como era viver na Alemanha de Hitler e pediu o testemunho aos que dela tinham conseguido exilar-se. Os testemunhos foram recentemente adaptados a brilhante documentário de Jêrome Prieur, que pôs a cantora Utte Lemper a lê-los em voz off, enquanto se viam imagens pouco conhecidas do dia-a-dia de quem se entusiasmava com os desfiles perante quem consideravam o redentor da Alemanha humilhada pelo tratado de Versalhes. Mormente no trabalho de sonorização, a longa-metragem é notável na capacidade de nos mergulhar em tão odiosa realidade.
Igualmente vítimas da impossibilidade de contrariarem forças adversas, bem mais fortes do que eram, os elefantes Castor e Pollux, adquiridos para gáudio dos que se passeavam no Jardin d’Acclimatation de Paris, viram-se transformados em bifes aquando do cerco prussiano de 1870. Pobres animais que, já não bastava a prisão, ainda se tornariam ementa para mitigar a fome dos sitiados.

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