domingo, janeiro 06, 2019

(DL) O homem como lobo do homem em versão alemã-oriental


Lukas Rietzschel é um jovem escritor alemão, de apenas 24 anos, que acaba de publicar o primeiro romance, “Mit der Faust in die Welt schlagen”, com o qual está a causar algum impacto mediático pelo tema versado: a tendência para o antissemitismo nas populações do Saxe e de alguns outros estados anteriormente pertencentes à antiga RDA.
Como é possível que se tenha passado da ideologia tida como comunista para a da extrema-direita, hoje particularmente bem sucedida nesse amplo espaço absorvido pelo lado ocidental nos anos 90? Através de dois irmãos com posicionamentos políticos opostos, Rietzschel vai colocar o dedo na ferida: muito embora seja o sistema capitalista, na atual versão neoliberal à escala global, o verdadeiro responsável pelo fecho de todo o tecido industrial, as vítimas desse cenário de catástrofe não conseguem perceber quem são os principais responsáveis pela falta de futuro, que pressentem como definitiva condenação.
Cumpre-se, então, a regra desgraçada dos desesperados culparem os que sentem ainda mais fragilizados do que eles próprios. Por isso mesmo, há uns anos culpavam os povos do sul por serem uns mandriões e, hoje, culpam os refugiados, que pretendem vir-lhes roubar os empregos que não têm, ou os depauperados serviços sociais, que nunca lhes encontram paliativo para a infelicidade. E, porque têm da Alemanha nazi uma perspetiva distorcida quanto a ter sido poderosa, voltam a tomar os judeus como inimigos de estimação como se, insultando-os ou agredindo-os, pudessem recuperar esse mítico passado, que idealizam na doentia imaginação.
É aqui que cabe recordar o essencial: se as extremas-direitas cresceram tanto nos últimos anos há fundamento na incapacidade das esquerdas em consciencializarem os seus prosélitos quanto à verdadeira natureza do sistema, que os torna párias, e ademais deles se aproveita enquanto fanatizados soldados ao seu serviço. Se tantos fascistas atuais provieram do campo ideológico contrário, é tempo de os abanar com as evidências quanto a terem-se tornado, em grande parte, nos piores inimigos de si mesmos.

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