segunda-feira, setembro 24, 2018

(DL) Jonathan Raban: «Terra Madrasta»


Em 1919 a grande maioria dos incautos, que haviam acorrido ao Montana, iludidos pelas promessas de ali encontrarem terras férteis para cultivarem e prosperarem, já tinham concluído que haviam caído num logro.  Embora nas décadas seguintes continuassem a surgir grandes deceções por quem julgara ver na América a Terra dos Sonhos, os pesadelos dos que perderam a saúde, e quantas vezes a vida, numa aventura que os deixara ainda mais pobres do que haviam sido no ponto de partida, data pois de muito atrás.
A chuva era escassa, a terra estéril tão só os arados removiam a camada superficial da terra, que lhes começara por parecer promissora e as «soluções» prometidas pelo Manual Campbell, apresentado como divulgação dos conhecimentos tecnologicamente mais avançados para serem bem sucedidos , revelaram-se verdadeiras aldrabices. Há precisamente cem anos um dos empresários mais odiados naquele Estado, que tinha sido promovido como o futuro celeiro dos Estados Unidos, era Hill, o dono da Great Northern Line, a companhia ferroviária responsável pela enganadora campanha publicitária. Os mais imaginativas comparavam-lhe o nome com o quase homófono «Hell», de Inferno.
Quando, seis décadas depois, Jonathan Raban percorreu essas paisagens, encontrou-as desertificadas com ranchos e aldeias fantasmas, por todos abandonados. Em Ismay, que fora vila particularmente animada no início do século XX, pôde assistir ao malogro de uma tentativa habilidosa de ressurgimento ao mudar de nome para Joe de forma a «homenagear» um dos grandes jogadores de basebol  - Joe Montana - que nem sequer se dera ao trabalho de fazer-se aparecido.
O retrato social mostrado no livro é o dessa América dos abandonados pelas detestadas autoridades federais e pelas elites das cidades costeiras, contra quem encontraram forma de se vingarem ajudando ativamente a que Trump chegasse à Casa Branca.

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