domingo, setembro 09, 2018

(DIM) «Sem Retorno» de Monte Hellman (2010)


Que filme estranho este «Sem Retorno», que foi recebido com grande expetativa em Veneza em 2010, porque tratava-se do regresso de Monte Hellman, um veterano realizador de Hollywood, então com 79 anos, e sobre quem se justificava sempre a dúvida: tivesse podido fazer os filmes, que estariam ao alcance do seu talento e quantas obras-primas ter-nos-ia proporcionado?
A montanha acabou por parir um rato, porque a confusão da narrativa era total, apenas sendo-nos sugeridas algumas possibilidades de interpretação. À partida existira uma fraude por parte de um funcionário municipal em conluio com as mafias cubanas, que teria prejudicado a Carolina do Norte em 100 milhões de dólares, e concluído com a aparência de um suicídio mediante o mergulho do seu pequeno monomotor num lago. Havia também a amante, Velma, que teria morrido, não sem se implicar no assassinato de um polícia, Billings, envolvido com ela e Taschen na criação da narrativa do «acidente». E há depois a equipa cinematográfica, comandada pelo realizador Mitchell Haven, que baseia-se nas informações de um blogue local para recriar a história sob a atenção constante do investigador de uma companhia de seguros decidido a
apurar as circunstâncias em que tudo ocorrera.
Há também Laurel, a atriz contratada para personificar Velma, mas que somos levados a suspeitar ter sido ela própria também a interpretar esse papel ficcional pré-definido pelos mafiosos.
Até por senti-la como o eixo da estória - embora muito ajude o facto de tomá-la como amante -  o realizador centraliza o argumento em seu torno.
Hellman integra muitos extratos de clássicos de cinema no seu filme, neles buscando a caução para quanto vai ocorrendo no seu filme. Mais do que dormir com Laurel, Mitchell parece apostado em mostrar-lhe filmes, que o influenciam no trabalho criativo. É numa dessas inserções - «O Sétimo Selo» de Bergman, com a Morte e o Cavaleiro a disputarem a sua partida de xadrez! - que o investigador da companhia de seguros irrompe no quarto e denuncia Laurel como cúmplice na fraude, e a mata involuntariamente com a pistola com que julgava apenas ameaça-la. Depois, num ato de vingança, Mitchell mata-o...
Antes que a polícia o venha prender, Mitchell filma a cena do crime com os corpos sem vida, arranjando um final adequado para a mistura que a realidade impusera à sua ficção.

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