terça-feira, setembro 04, 2018

(DIM) «A Corda» de Alfred Hitchcock


Após dois meses de paragem para possibilitar o prazer de se ver cinema ao ar livre, o Cineclube Gandaia volta à sala do Centro Comercial O Pescador para oferecer aos caparicanos, e a todos quantos se lhes queiram associar, as propostas de bom cinema, enquadrável em ciclos, que possibilitem um melhor conhecimento dos realizadores ou das cinematografias que os integram.
No ano transato a obra de Alfred Hitchcock foi abordada nos seus últimos títulos, quando o fulgor comercial das suas propostas já não colhiam os favores dos estúdios de Hollywood. Ainda assim, embora privado das condições, que havia conhecido nas décadas anteriores, o mestre fazia com que esses filmes fossem bastante interessantes e contivessem muitas das suas características fundamentais.
Para o ciclo Hitchcock desta temporada escolhemos um dos seus melhores períodos criativos, que coincidiu no encontro com James Stewart, ator dotado de um carisma muito peculiar e por isso capaz de dar acrescida credibilidade às estórias de que se tornava protagonista.
«A Corda», rodado em 1948, é daquelas obras onde Hitch mostra todo o seu engenho ao situar toda a ação na mesma sala, sem que o espectador se entedie ou pense estar perante uma peça de teatro filmada. Quando, ulteriormente, ele confessou o projeto de situar toda uma longa-metragem numa cabine telefónica, foram muitos os que acreditaram na viabilidade de se poder vir a tratar de outra obra maior.
O filme coloca questões muito pertinentes para lá daquela que parece mais imediata: é ou não possível cometer um criem perfeito, em que os assassinos se livrem da responsabilidade do seu ato? Mais do que esse tema que, em si, e formalmente interessante, há outro relevante que nos pode interessar mais: até onde pode conduzir a arrogância de superioridade de uma elite, que se julgue acima da lei e da moral, apenas porque se considera mais inteligente?  Até que ponto é legítimo ela sentir-se no direito de comandar os destinos alheios, incluindo o direito de viver ou morrer?
Transferindo essa questão para o terreno da política - que, lembremo-lo, está presente em tudo quanto vivemos ou presenciamos - até que ponto as elites económicas têm o direito de ditar aos que subjugam quão melhor ou pior deverão viver, impondo-lhes ordenados, horários de trabalho e outras condições que se assemelham a uma escravatura encapotada?
Estamos, pois, no terreno dos valores morais, mas também nos que têm a ver com a aceitação ou não das notórias desigualdades, que se vão agudizando à nossa volta.
(Sessão a ocorrer na quinta-feira, dia 6 de setembro pelas 21.00)

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