terça-feira, janeiro 26, 2016

LEITURAS AVULSAS: A falsa neutralidade das imagens

Num artigo da semana passada, publicado no «The New York Times Magazine», Teju Cole insurge-se contra a opinião do editor da revista «Foreign Policy», que negou o lado glamouroso da fotografia a preto e branco de Marion Maréchal-le Pen destinada a acompanhar um artigo sobre a sua crescente relevância na política francesa ao rivalizar em xenofobia com o famoso avô.
Contestando quem lhe apontava os riscos de a apresentar de forma tão atrativa quanto a das que eram utilizadas pelas celebridades do passado, Benjamin Parker não quis aceitar a evidência da dessincronia entre o texto crítico e a leitura dada pela fotografia que o pretendia ilustrar. Nesse sentido uma outra imagem a cores, em que se a vê no meio de um grupo de pessoas, tendo bandeiras francesas como fundo, corresponde mais adequadamente ao sentido do que se pretendia abordar.
Mas Cole recorre a outros livros sobre, e de, fotojornalismo para corroborar a tese em como existe sempre uma parcialidade no que se dá a ver. Por exemplo David Shields publicou «War is Beautiful» em que fundamenta a tese de se tender a dar um sentido estético aos cenários de guerra. E, quando se trata de apresentar corpos feridos, ou mesmo já desprovidos de vida, Susan Sontag constatara como eles eram mais facilmente mostrados se correspondessem a quem vivia noutras latitudes distantes, já que se se tratassem de gente próxima os fotógrafos tornavam-se muito mais discretos.
Outro autor citado por Teju Cole é Peter van Agtmael, autor de «Disco Night, Sept 11», onde apresentou muitas das imagens colhidas nas viagens ao Afeganistão ou ao Iraque. Uma delas é a de sete soldados vistos de cima a varrem o chão com detetores de minas no cenário lindíssimo do deserto de Helmand.
Segundo somos informados, momentos depois ocorria uma violenta explosão, o que se enquadra no conceito do autor: captar uma realidade pouco antes de algo a alterar. O que lhes confere um dramatismo, que não tinham se não recebêssemos a informação complementar.
Mas esse efeito das palavras a acompanhar a aparente neutralidade de imagens, ainda se torna mais pertinente no projeto de Adam Broomberg e Oliver Chamerin, «War Primer 2», em que são associadas fotografias muito conhecidas - as torturas em Abu Ghraib, a execução de Saddam Hussein, a sala da Casa Branca em que vários colaboradores acompanham Obama no iminente assassinato de Bin Laden - a textos de Bertolt Brecht, que lhes acentuam o lado maligno de todas as guerras.
Brecht dissera em 1931 que “a câmara é tão capaz de mentir como a máquina de escrever”. Tratava-se para ele de uma ferramenta desonesta capaz de tornar mais bonito, horrível ou suave o que dá a ver. Mentindo inevitavelmente sobre a realidade, apesar dela revelar a violência, o ódio, o preconceito, que tende a refrear na sua verdadeira dimensão.
É por isso mesmo que se justifica a utilização constante do nosso sentido crítico perante as imagens dadas diariamente por jornais e televisões.

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