quarta-feira, janeiro 13, 2016

DIÁRIO DE LEITURAS: «História da Violência» de Edouard Louis

Em 2014 as livrarias francesas acolheram um título da autoria de um jovem escritor, Édouard Louis, que se converteria num enorme sucesso de vendas. «En finir avec Eddy Bellegueule» contava como o autor se descobrira homossexual desde muito cedo e, por isso mesmo, se vira no foco das humilhações dos familiares e dos vizinhos da aldeia da Picardia onde vivia. Um sítio onde, nas recentes eleições regionais, a Frente Nacional conseguiu votações acima dos 60%.
O romance autobiográfico estava escrito com muito talento e denunciava essa França provinciana eivada de preconceitos homofóbicos.
Nesta nova temporada literária, Édouard Louis volta a estar em foco com o seu novo romance «Histoire de la violence», onde aborda a terrível experiência vivida em 2012.
No site da Seuil é assim, que ele a descreve: “Encontrei Reda numa noite de natal.
Regressava a casa pelas quatro da madrugada depois de jantar com amigos.
Ele abordou-me na rua e acabei por o convidar para o meu estúdio. Foi assim que me contou a história da sua infância e da chegada a França com o pai, que fugira da Argélia.
Passámos o resto da noite juntos a discutir  e a rir quando, pelas seis da manhã, puxou de um revolver e anunciou o propósito de me matar. Insultou-me, estrangulou-me, violou-me.
No dia seguinte fui ao hospital e fiz queixa à polícia.
Mais tarde a minha irmã serviu-me de confidente e ouvi-a repetir a história à sua  maneira.
Ao regressar à minha infância, mas também à vida de Reda e do seu pai, ao refletir sobre a emigração, o racismo, a miséria, o desejo e os efeitos do trauma sofrido, quis compreender o que se passara naquela noite. E, através dela, esboçar uma história da violência”.
O romance acaba por ter por tema o momento em que essa violência se revela e o que subjaz a esse súbito instinto assassino.  Louis vai fazê-lo através de três vozes distintas: a dos polícias, que recebem a queixa e revelam o seu racismo larvar; a irmã que imaginou reencontrar na região natal e logo conta ao marido, um camionista, a sua versão dos acontecimentos, e os comentários do narrador enquanto a ouve nesse relato.
Nalguns aspetos Louis desvia-se dos estereótipos consagrados sobre o tema: confessa ter-lhe sido mais dolorosa a sensação de que ia morrer do que a violação em si e em como, desde então, não terá conseguido dissociar-se ele mesmo de uma certa reação atávica de racismo em relação aos magrebinos ou aos negros. Mas não deixa de reconhecer o efeito de catarse, que esta tradução literária dos seus tormentos, potencia... 

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