terça-feira, janeiro 19, 2016

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA: A efémera República de Nicola di Rienzo

No século XIV Nicola di Rienzo descobriu um fascínio incontornável pela Roma Antiga cujo esplendor ambicionava recuperar para a cidade em ruínas do seu tempo. Ele não queria sequer imaginar que essa mesma Roma não era feita apenas de tais aparências de grandeza porquanto comportava, igualmente, pobreza e uma agitada vida política. Ele via nesse passado o melhor argumento para fundamentar a indignação contra os barões, que comandavam chusmas de bandidos encarregados de impedir qualquer indício de contestação à sua lei.
Um dia, quando explorava as ruínas de uma Igreja, Nicola descobriu uma placa de bronze, que estivera ali abandonada durante mil anos, e onde se testemunhava a investidura do Imperador Vespasiano, conhecido por ter ordenado a construção do Coliseu em 69 d.C.
Em tal placa estavam bem definidos os deveres e os direitos do Imperador perante os súbditos. Seria com base nessa placa, que Nicola defenderia o princípio da legitimidade dos governantes como proveniente do povo. O poder político não pertenceria, de direito, aos barões, mas a toda a população. Doravante ele defenderia como solução política o regresso aos ideais políticos do passado como garantia de se seguir em frente.
Em 1342 partiu para Avinhão, decidido a convencer o Papa a regressar à Cidade Eterna e assim caucionar a urgente mudança política.
A corte papal, que há quarenta anos se instalara na cidade francesa, era deslumbrante e acolhia os espíritos mais brilhantes da época, entre os quais o poeta Petrarca de quem Nicola se tornou amigo. Foram as cartas trocadas entre ambos, que melhor nos possibilitaram conhecer a importância assumida por Nicola no seu tempo.
Se a missão de fazer o papa regressar a Roma falha, Nicola não perdeu a ambição de criar uma ressurgida República. Brilhante propagandista, realizou comícios por toda a cidade de forma a transmitir a sua mensagem. A eloquência com que o fez garantiu-lhe o crescente apoio popular e o ódio dos barões.
Em 1347 uma imensa multidão ouviu-o e aclamou-o como seu tribuno numa revolução pacífica, que lhe permitiu, de imediato, implementar leis para acabar com as milícias e o banditismo e criar impostos para assegurar a proteção das viúvas, dos velhos e da generalidade dos mais desprotegidos.
O seu governo passou a ser conhecido como «o Bom Estado» por ter como objetivo a imposição da paz e da justiça.
Mas a emocionante euforia da nova República de Nicola não duraria muito tempo: a gloriosa tradição romana, que pretendia restaurar, voltaria a mostrar a sua faceta mais sombria, com conspirações e intrigas sangrentas. E se os antigos imperadores possuíam uma guarda pretoriana para os proteger, Nicola estava praticamente entregue a si mesmo.
Logo que fora proclamado tribuno os barões começaram a preparar-lhe a queda espalhando histórias sobre a sua ambição desmedida pelo poder. Os boatos depressa surtiram efeito e a autoridade de Nicola enfraqueceu.
Após sete meses de governação os barões optaram por ataca-lo às claras e Nicola barricou-se no castelo de Sant’Angelo apelando à população para que viesse em seu socorro.  Em vão, porque ninguém acorreu a apoiá-lo.
Sentindo a vida em perigo optou por fugir, devolvendo o controlo da cidade a quem a dominava anteriormente.


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