domingo, maio 31, 2015

PALCOS: «A Batalha de Não Sei Quê» pelo Teatro do Elétrico

Faltam apenas dez dias para sair de cena esta peça do Teatro do Elétrico, que está na sala da Politécnica gerida pelos Artistas Unidos. Não tão entusiasmante quanto «Mary Poppins, a mulher que salvou o mundo», ou mesmo as «Menos Emergências», que ainda há pouco revi no Trindade, a peça de Ricardo Neves-Neves é, porém, bastante mais interessante do que a maior parte dos espetáculos atualmente disponíveis em Lisboa. Porque, tal qual a veterana Custodia Gallego reconhecia há dias numa das emissões do «Inferno» no canal Q, a inteligência e a originalidade com que são criadas novos projetos no Teatro do Elétrico é de molde a justificar a nossa militante atenção.
Nest’”A Batalha de Não Sei Quê» temos uma brilhante demonstração do que pode ser o teatro do absurdo, na linha de Beckett, aplicado a um contexto, que se critica com particular acutilância.
Temos então uma batalha marcada para as cinco da tarde, o que suscita agrado em quem a irá protagonizar porque, pelo menos, é capaz de dar tempo para o lanche.
O tenente, que comanda as tropas, fala com tal rapidez, que come boa parte das palavras,. O aviador vai espreitar o inimigo e traz notícias alarmantes, que prenunciam uma iminente derrota, mas qual o interesse de tal possibilidade se encontra por ali uma espanhola concupiscente? Há também uma freira, que solta palavrões sempre que abre a boca. E um radio(telegrafista?) comunista, que dá belas preleções sobre os perigos dos crocodilos vislumbrados pelo aviador e vê o discurso deturpado pela hierarquia, que se põe a falar de cangurus.
Mas a mensagem mais explicita da peça é a de deixar o tenente a falar sozinho no campo de batalha, depois de ter matado todos os subordinados. Como metáfora da luta de classes não podia ser mais eloquente...

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