domingo, maio 24, 2015

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA: Pelas terras da Rainha do Sabá? (2)

Em texto anterior víramos como, em 1871,   Karl Mauch encontraria as ruínas do que parecia ter sido uma majestosa cidade  de desconhecida civilização africana. Seriam os vestígios da mítica terra da rainha do Sabá, que tanto entusiasmara o rei Salomão?
As dificuldades, que enfrentara, eram incríveis tendo em conta a falta de apoios oficiais para as suas explorações. Para as autoridades alemãs as origens modestas de Mauch desaconselhavam qualquer ajuda, apesar do esforço autodidata por ele há muito assumido para levar a peito uma ambição, que lhe perdurara desde a infância.
Na perspetiva preconceituosa dos que lhe recusaram acintosamente o apoio, só quem provinha das classes mais privilegiadas deveria ter condições para ganhar glória e proveito com esse tipo de expedições. Até porque esse tipo de aventuras africanas eram caras e muito arriscadas: dezenas de europeus já ali tinham morrido de febres ou de encontros inamistosos com as tribos locais. Mesmo contando com riqueza bastante para contratarem elevado número de nativos incumbidos de lhes transportar as volumosas cartas com alimentos, ferramentas e armas.
De início Mauch nem dinheiro tinha para o bilhete de barco para os portos africanos donde pretendia iniciar o seu périplo. Por isso, com 27 anos, oferece-se como voluntário para a tripulação de um navio, que escalaria Durban. Estava-se em 1864.
Finalmente, o navio chegara a África” - escreveu no seu diário. - “Como ansiava por aquele momento em que, pela primeira vez, iria pisar aquela terra estranha.”
Mas a realidade de Durban e a existência de muitos colonatos europeus na África do Sul colidiram com a expectativa de Mauch de se tratar de uma terra por domar.
Em 1865 várias tribos constituíam a África do Sul, muito embora já preponderassem os xhosas e os zulus. Os brancos que aí se tinham estabelecido não chegavam a 250 mil.
Para sua surpresa, Mauch sentia-se mergulhado num mundo estranho mesmo numa floresta à beira das zonas mais europeizadas. E começou a suspeitar de que África constituiria um desafio bem mais difícil do que aquele para que se preparara.
Entrei na selva densa. Árvores altas com troncos sombrios crescendo juntos uns dos outros. Podia ouvir-se o mais ínfimo ruído. Sentia-me dominar por uma sensação de medo e terrivelmente isolado no meio da estranha natureza.”
Acabou por superar o medo e avançou a pé até ao que é hoje a fronteira norte da África do Sul. Levou três semanas em tal caminhada, aceitando trabalhos ocasionais em fazendas a troco de comida e abrigo. E apanhou boleia de uma das caravanas, que levava mantimentos para um dos colonatos fronteiriços.
No tempo livre tomava notas, fazia esboços e recolhia espécimes. Apaixonou-se pelo país, mas antipatizou com os colonos, particularmente os boers, que considerava pouco civilizados e cruéis para com os negros.
Para os boers, um ‘kaffir’ ou um nativo de cor não é um homem.”
Passados vários meses encontrava-se onde pretendia: no limiar da África desconhecida.
“Pensei para comigo que tinha passado a fase preparatória da expedição e que iniciava verdadeiramente a da viagem em si.”
- textos baseados num documentário da National Geographic

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