sábado, maio 23, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «Felicidade» de Will Ferguson (IV)

No texto anterior tínhamos ficado na altura em que toda as grandes empresas da sociedade norte-americana começam a claudicar, porque o livro de autoajuda de Tupak Soiree incita os executivos a irem à pesca e a generalidade da população a adotar comportamentos zen em vez de viver obcecada com as rotinas do dia-a-dia.
Entra, então, em cena uma personagem, que acompanhará o protagonista quase até ao fim: Robert Alascar, aquele que tinha alcançado fama como Sr. Ética pelos livros sobre tal temática para a Penderic Books mas, entretanto, encarcerado por fraudes fiscais.
Ao contrário do que ocorrera com a maioria dos seus leitores, o livro de Tupak deixara-o furibundo, pelo que  foge da prisão para se vingar do responsável pelo êxito de quem lhe sucedera na coleção de que se tinha sido praticamente o exclusivo autor.
Desconhecedor do perigo em que incorre, Edwin procura salvar May do apocalipse, que adivinha iminente: “É uma bomba-relógio, May! Uma bomba-relógio a trabalhar pronta a rebentar a qualquer momento. A convulsão a que assistimos até agora … a indústria do tabaco, o colapso das empresas de bebidas alcoólicas … não é nada May. É só a primeira vaga. Temos quase dez milhões de exemplares no prelo e é só a primeira vaga. O pior ainda está por vir.”(pág. 195)
Para Edwin torna-se cada vez mais evidente que toda a economia capitalista assentava nas fraquezas humanas, nos maus hábitos e nas incertezas. Na dúvida pessoal e na insatisfação, que impulsionava a vontade de consumir.
“Pensa no que podia acontecer, se as pessoas fossem realmente, verdadeiramente felizes. Se se sentissem verdadeiramente satisfeitas com as vidas que levam. Seria calamitoso. O país inteiro paralisava” (pág. 196), continua ele enquanto tenta convencer a indiferente May.
“As clínicas de emagrecimento e os ginásios de musculação foram os seguintes a entrar em colapso., seguidos de perto pelo mercado da ginástica doméstica e das curas milagrosas da calvície” (pág. 198). As vendas de «O Que Aprendi na Montanha” já então ascendem a 45 milhões sem fim à vista.
Seguiu-se a indústria do pronto-a-comer, ou seja os McDonald’s e a KFC. Os cosméticos nas prateleiras, os grandes armazéns às moscas. A moda morreu sem dar luta.
Perante a expetativa de lhe ser devolvida a fortuna recentemente ganha na Bolsa, Edwin despede-se do emprego sem avisar, nem se despedir de quem quer que seja e surpreende-se com o silêncio na Grand Avenue. Mas já está a imaginar o potencial de um movimento rebelde de pessoas dispostas a recusarem-se a desistir dos maus hábitos, quando chega a casa e constata ter Jenni vendido tudo quanto ali  existia para financiar a nova vida de concubina junto de Tupak Soiree. E, na manhã seguinte, antes de conseguir a transferência da fortuna para paraísos fiscais, conclui, horrorizado, que também por ali passara a ação de limpeza de Jenni...

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