sábado, maio 02, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «O Arquiteto» de Keith Ablow (6)

Após um hiato de vários dias concluamos a abordagem ao romance policial de Keith Ablow, um psiquiatra norte-americano cuja biografia suscitas as maiores desconfianças, ou não seja ele presença habitual do canal Fox News de Robert Murdoch.
No texto anterior já víramos como Frank , o protagonista, também ele psiquiatra ao serviço do FBI, concluíra pela forte suspeição quanto à culpabilidade dos sucessivos crimes de que se encontra incumbido, de um arquiteto, West Crosse, não só ligado em Yale à Fraternidade dos Ossos e da Caveira, como sobretudo conhecido pelo carácter perfecionista dos seus projetos.
Adivinhando que a ex-mulher, a lindíssima Laire Jones, ainda tem contacto com ele, apesar de ter sido abandonada quando a perfeição do seu corpo ficara  posta em causa pela mastectomia a que se submetera,  Frank procura-a e descobre onde ele se aloja: no Hotel Mayflower em Washington sob a falsa identidade de William Russell, precisamente o fundador da conhecida Fraternidade de Yale.
Falando-lhe no bar, Frank fica impressionado com o seu olhar: “ele por dentro está morto!”, confidencia a Whitney, apesar dela - sua superiora hierárquica, não lhe autorizar interrogatório nem muito menos a prisão preventiva.
Era a Fraternidade a impor as suas regras, já que o pai dela também fora dela membro proeminente, ou o mero receio de indispor o Presidente, que fornecera ao arquiteto o livre transito para circular livremente por toda a Casa Branca?
Esse entrave acaba por ser fatal à última vítima, Blair: West Crosse consegue matá-la, levando o cadáver da rapariga até uma das salas da Casa Branca, onde acabaria enfim abatido pela Segurança presidencial.
Quando é convocado para que o Presidente e a mulher lhe agradeçam o emprenho em descobrir o assassino antes que pudesse fazer mal à filha, é indisfarçável o alívio com que os pressente aliviados do seu fardo…
Lido sem julgamentos precipitados, o romance até nem denuncia facilmente a ideologia conservadora do seu autor. Mas estando aqui subjacente uma atração pela eugenia, podemo-nos questionar se ela decorre da necessidade da intriga, se reflete algum fascínio do autor por tão pouco escrupulosa forma de eliminação dos mais fracos.
Se quisermos ir mais além ainda é possível compreender que, para Ablow, não existe elevador social: um miúdo, que cresce num ambiente problemático, dificilmente se livrará da delinquência como único modelo de sobrevivência. Assim como um estudante universitário de Yale quase sempre conseguirá ocupar posição social de relevo na sociedade norte-americana.
Concluir-se-á facilmente que a mundividência retrógrada do autor surge bastante bem disfarçada, numa sugestão implícita mais eficaz do que se assumida declaradamente à partida... 

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