quinta-feira, maio 28, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Deus Branco», uma metáfora húngara




Quando a Hungria era “comunista”, o seu cinema era do que de mais interessante provinha do antigo bloco de leste. Realizadores como Miklos Jancso ou Marta Meszaros mereciam atenção pela riqueza conceptual de cada um dos seus títulos.

Com a implantação de uma «democracia à ocidental», que resultou na atual ditadura de Viktor Orban, o cinema húngaro só não desapareceu porque Bela Tárr andou anos a lutar contra a corrente até se declarar farto com o seu desesperado «O Cavalo de Turim».

Este filme de Kornél Mundruczó, agora estreado em Lisboa, revela-se estimulante para diversos tipos de público. Na sua leitura mais direta agradará aos amigos dos animais, que apreciarão a forma como os cães rafeiros se revoltam contra a ordem de extinção de que são alvo. Muito embora se possam questionar quanto às declarações da produção em como nenhum dos quase trezentos animais utilizados nas filmagens sofreu com a aparente violência aqui ilustrada.

Mas, tendo em conta que essa ordem visa diretamente os que não são de raça pura, existem óbvias referências a uma realidade húngara, onde os ciganos são perseguidos, se não mesmo assassinados, e os dois partidos mais votados contêm em si os genes dos que, durante a Segunda Guerra Mundial, serviram de corte ao ditador Horthy no seu colaboracionismo com Hitler.

«Deus Branco» é dos filmes mais interessantes hoje disponíveis nos ecrãs lisboetas.

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