segunda-feira, maio 11, 2015

DIÁRIO DE LEITURAS: «Felicidade» de Will Ferguson (I)

Em 2001 o escritor canadiano escreveu um romance bem humorado contra a moda dos livros de autoajuda sugestionado pelo que ouvira da boca de uma diretora de comunicação a respeito dos escritores comprometidos em viagens de promoção: eles seriam os que maior tendência revelavam para manifestarem comportamentos neuróticos!
Alerta Ferguson: “Se alguém escrevesse um livro de autoajuda que realmente funcionasse, um livro que curasse as nossas tristezas e eliminasse os nossos maus hábitos, os resultados seriam catastróficos”. (pág. 10)
Podemos então entrar no romance, que tem por narrador e protagonista  Edwin Vincent de Valu, que trabalha há quatro anos na Panderic Books Incorporated, uma editora vocacionada para livros de não ficção e romances de género.
Nesse local de trabalho interessa-o, sobretudo, a pessoa de May Weatherwill, que fora quem o contratara: “Uma vez, no Sheraton Timberland Lodge, tinham rebolado juntos na cama e nunca mais tinham falado no assunto. Era a ‘mokita’, palavra da Nova Guiné que significa ‘a verdade que ninguém exprime’”. (pág. 21)
Todos os dias Edwin tem de se livrar do “refugo”, o monte de manuscritos originais, que aterram em cima da sua secretária, oriundos de outros tantos escritores desconhecidos, ansiosos pela possibilidade de verem o nome no escaparate de uma livraria.
Um dia, pressionado pelo diretor para arranjar algo que se publique numa coleção habitualmente ocupada pela laboriosa escrita do sr. Ética (agora retido na prisão depois de um caso de fraude fiscal!), Edwin aposta num título - «O Que Aprendi na Montanha» - da autoria de um tal Tupak Soiree, recentemente chegado de uma longa estadia no Tibete.
Só que, quando já o anunciara ao patrão, o manuscrito desaparece levado pelo empregado da limpeza, que o tratara de atirar para um contentor de lixo, entretanto despejado para a barcaça incumbida diariamente de depositar num aterro tudo quanto a grande cidade rejeitava.
Desesperado Edwin procura o livro no meio da imundície, mas sem sucesso. Embora congemine incumbir-se, ele mesmo, da redação de um texto alternativo, Edwin depressa conclui quanto à impossibilidade de levar tal projeto a bom fim: precisaria de 42 horas por dia durante toda uma semana para chegar com o livro à reunião seguinte com o senhor Mead.
Durante os dias seguintes, Edwin foi tomado de uma estranha espécie de calma. Era a calma de um homem que aceitou a sua sorte, quer fosse a morte diante de um pelotão de fuzilamento, a  morte por injeção letal ou o defrontar de um patrão dominador sem nada a não ser justificações ocas e desculpas esfarrapadas. Era uma calma profunda e existencial”. (pág. 67)
Seria despedido do seu emprego e devolvido à condição de “bom vivant”? Ou arranjaria Edwin algum subterfúgio para continuar a trabalhar na Panderic?

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