terça-feira, junho 28, 2011

Documentário: MONTY PYTHON: ALMOST THE TRUE (1) de Bill Jones, Alan G. Parker e Benjamin Timblett (2009)

Em 2009 foi produzida uma série de seis documentários sobre os Monty Python’s juntando entrevistas com os seus elementos e os amigos e conhecidos, em paralelo com extractos de muitos episódios, que os influenciaram ou em que intervieram. Em si trata-se de um documento extremamente rico em informações sobre uma das experiências mais irreverentes da segunda metade do século XX, pelo que conteve de subversão dos principais tabus então vigentes na sociedade britânica.
Daí que se justifique uma abordagem aprofundada desses documentários, começando pelo primeiro, dedicado à infância e aos primeiros passos de John Cleese, Eric Idle, Michael Palin, Terry Jones, Terry Gillian e Graham Chapman.

As memórias mais remotas de Idle vão para o pós-guerra, quando Londres ainda estava pejada de ruínas e os bens essenciais sujeitos a racionamento. O que não impedia a felicidade das crianças: Michael Palin recorda quão feliz se sentira nesses tempos, numa família bem humorada, mas aonde o pai viria a encarar muito negativamente a sua futura opção pela carreira de actor.
Diferente é a evocação de Terry Jones, que não vira o pai durante os primeiros anos de vida, por ele estar em missão militar na Ásia. Quando o encontrou na estação de caminho-de-ferro, sentiu o desconforto de um desconhecido de bigode a beijá-lo. Com humor reconhece nunca mais ter-se sentido á vontade para beijar gente com bigode.
Nascido na América, Terry Gillian recorda a infância na paisagem rural do Minnesota aonde era obrigatória a ida dominical à missa.
E, porque já não está entre os vivos, Graham Chapman é evocado pelo companheiro, que recorda o facto de ter tido por pai um polícia, factor relevante para vir a ser essa uma das classes mais satirizadas pelo grupo.
Finalmente John Cleese recorda que o nome de família era «Cheese» (queijo), só tendo sido mudado pelo avô por se sentir constrangido pelos trocadilhos de que se sentiria vítima por tal facto.
Nos primeiros anos todos eles entusiasmavam-se com as comédias radiofónicas ao estilo dos Parodiantes de Lisboa com pilhérias emitidas em vozes distorcidas por actores, que se multiplicavam em diversos papéis. Peter Sellers era um dos mais conhecidos.
Mimetizando esses comediantes, alguns deles enveredavam por comportamentos histriónicos: Michael Palin divertia os colegas imitando os professores ou interpretando todos os papéis numa recriação da cerimónia da coroação da rainha em 1954.
Por seu lado na escola para órfãos, que Eric Idle frequenta, interpreta os seus primeiros desempenhos teatrais.
As recordações de Terry Gillian ou de Terry Jones situam outros acontecimentos marcantes nas vidas de todos eles. Ainda a viver nos EUA, o primeiro vê as escolas dominadas ideologicamente por uma direita radical, que combatia a integração racial e acusava de comunistas todos quantos não alinhassem com ela.
Mas Terry Jones constata o quanto tudo mudou nos anos 60, quando até a própria crença num qualquer Deus se tornou numa espécie de anacronismo.
Era a época em que o actor Peter Cook conhecia o auge da sua carreira em interpretações televisivas, que reduziam a escombros todos os principais resquícios da respeitosa sociedade vitoriana.
Amadureciam as condições para que os Monty Python’s viessem a surgir no final dessa mesma década.

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