segunda-feira, junho 13, 2011

Documentário: A CADA UM O SEU BAILE de Barbara Necek

O baile vienense é uma tradição, que se cola á identidade cultural da capital austríaca. Entre Novembro e o Carnaval há dezenas de bailes para todos os gostos, desde o prestigiadíssimo Baile da Ópera, que é transmitido em directo pela televisão e tem a presença do próprio Presidente da República até aos mais alternativos, como o dos porteiros, o dos refugiados ou o da comunidade homossexual, passando pelos que procuram conciliar o classicismo de uns com a irreverência de outros, como é o caso do dos pasteleiros.
As câmaras de Barbara Necek vão seguir a preparação de alguns desses bailes, fixando-se em alguns dos que neles participam. Por exemplo há a debutante, aluna do Liceu Francês, que irá abrir o Baile da Ópera tal qual sucedera com a própria mãe, quando tinha a sua idade. Há Renate, a antiga artista gráfica, que concorre à indigitação do melhor pasteleiro da cidade. Há a estrela travestizada do Baile das Rosas, que não poderia ser mais kitsch. Ou o grupo de porteiros, que se esfalfam a preparar os seus números pimba.
Pelo meio surgem os escândalos, como o de um dos principais donos de centros comerciais de Viena e que convida para o seu camarote gente do estilo do J.R. da série Dallas ou a jovem amante marroquina de Berlusconi.
Essa truculência escandaliza obviamente a classe abastada, que vê no Baile da Ópera uma forma de reviver o saudoso espírito do velho Império.
E há também a vagabunda, que lamenta não haver nesse ano dinheiro para o baile desse grupo social e se entretém a dançar pelos cafés enquanto não chega a hora de se colocar frente à televisão a ver a transmissão em directo do Baile da alta burguesia.
Ou os refugiados georgianos, que conseguem finalmente a disponibilidade para se irem divertir na companhia dos amigos e de quem está na sua condição de exilados.
O filme acaba por ser bastante revelador em relação ao espírito de um lugar em que a estratificação social continua bastante arreigada na classe dominante, mas em que as mais desfavorecidas acabam por recorrer aos mesmos conceitos para os sabotar e exercer o seu direito de expressão por uma forma subversiva.
Não parecendo nada está-se a cuidar da velha luta de classes...

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