domingo, fevereiro 20, 2011

Filme: «MARTIN PRÉVOST, SÉRAPHINE»

Senlis, em 1914. Séraphine é uma mulher de meia-idade, feia e anafada, que sobrevive (mal) graças a um conjunto de trabalhos esforçados: a lavagem de roupa no rio, a ajuda ao talhante da aldeia e o de mulher-a-dias de uma mansão alugada a um alemão.
O que ela verdadeiramente aprecia é subir às árvores e, do alto das suas ramagens, ver toda a paisagem circundante. E que ela traduz depois naquilo que a ocupa no seu pequeno quarto alugado: pinturas de cores exuberantes.
Por mero acaso o alemão em causa, Wilhelm Uhde, descobre essa vocação e entusiasma-se com ela. Tanto mais que é um conceituado crítico de arte e marchand, conhecendo bem o valor das novas expressões artísticas então em curso.
O destino de Séraphine poderia ter mudado na altura se a guerra não tivesse obrigado o seu protector a fugir dali com súbita rapidez. Passar-se-ão anos até nova oportunidade se repetir. E será em 1927, quando o mesmo Uhde volta a região para aí se estabelecer com a irmã e com o amante tuberculoso.
Constatando que a capacidade artística de Séraphine melhorou com o tempo, ele passa a financiá-la e a estimulá-la para se dedicar em exclusivo à pintura. Mas a degradação do estado mental da artista acentua-se com delírios cada vez mais descontrolados.
A crise de 1929 irá repercutir-se seriamente no mercado da arte e o próprio Uhde tem de medir bem as suas despesas, negando à sua protegida o financiamento das suas, cada vez mais singulares, iniciativas. Quando, uma manhã, Séraphine se veste de noiva e vai distribuindo as suas pratas pelas portas da aldeia, o manicómio acaba por ser o seu destino natural.
A venda dos seus quadros só servirá para que as suas condições de internamento até à morte, ocorrida em 1942, sejam as melhores.
Sobre esta história real, Martin Prévost cria um filme cativante com imagens naturais bastante cuidadas, e em que se coloca a questão de se aferir sobre a natureza de um talento inato. Para a protagonista não sobram dúvidas: essa vocação é uma dádiva divina. Para Uhde, pouco crente nas místicas religiosas, confirma-se a génese atávica dos chamados primitivos modernos...
E Yolande Moreau terá aqui o grande papel da sua vida...

Sem comentários: