sábado, dezembro 25, 2010

Documentário: O NOVO CINEMA ESCANDINAVO de Jean-Marie Nizan e Stéphane Bergouhnioux (2010)

Será que «Millenium», o filme baseado no primeiro livro da trilogia de Stieg Larsson, o melhor exemplo do que é hoje o cinema escandinavo? Se a bitola forem as suas receitas de bilheteira, arriscamo-nos a uma resposta positiva. Mas o documentário de Nizan e Bergouhnioux quer ir mais além, interrogando realizadores, produtores e actores suecos, dinamarqueses ou noruegueses sobre uma questão pertinente: quando se vive quase sempre a temperaturas tão negativas e em longas noites sem luz ver-se-á a vida de outra forma? Quase todos os entrevistados coincidem numa conclusão: pelo menos existe um óbvio peso do silêncio. Ora, o silêncio é, precisamente, bastante cinematográfico.
Começa-se assim pela Suécia, o país que, a nível mundial, conta com mais salas de cinema por milhar de habitantes.
Stellan Skarsgard, actor de Hollywood, que se serve de grandes produções cinematográficas («Os Piratas das Caraíbas») para ganhar o dinheiro necessário às suas produções pessoais no país natal, considera que o fantasma de  Ingmar Bergman paira sobre todo o cinema sueco como um constrangimento, ao transformar-se numa herança difícil de reproduzir.
E, no entanto, o cinema sueco procura sacudir essa herança abordando temas muito actuais, como ocorre com «Together» e «Fucking Amal», filmes de Lukas Moodysson, quase em jeito de documentário. Segundo ele, há tantas coisas a contar, hoje em dia, sobre a Suécia: os seus silêncios, os seus grandes espaços, o seu sentido de dever, a sua abnegação!
Outra é a opção de Thomas Alfredson que parte do principio de se ser tanto mais universal, quanto específico se aparentar ser.  «Morse», por exemplo, é filme de vampiros em que se evoca a violência com imagens fortes, que sugerem muito mais do que chegam a mostrar.
Passando para a Dinamarca temos o país escandinavo aonde a produção é mais intensa. Sobretudo desde que Lars Van Trier se tornou a sua figura tutelar com a definição de princípios contida no manifesto «Dogma». Que impunha filmes destinados a incomodar, que constituam para o espectador uma espécie de pedra no sapato.
Mesmo já declarado morto, esse movimento ainda deixou sequelas. Susanne Bier, por exemplo, continua a apostar numa sinceridade como essência dos seus filmes: num deles há um casamento em cuja cerimónia a noiva anuncia saber que o seu suposto pai não é efectivamente o seu verdadeiro progenitor biológico, mas homenageando-o para incómodo dos presentes, que vêem assim destruído o cenário de aparências em que sempre tinham vivido.
Num outro estilo Nicolas Winding Refn explora, em «Pusher», a violência exibindo-a de uma forma insuportável para a maioria dos espectadores ocidentais, mas que os dinamarqueses parecem apreciar. Com outras preocupações mais ambiciosas, Christopher Boe mostra em «Allegro» uma zona segregada de Copenhaga transformada numa espécie de gueto. Nós sabemos estetizar as dores da alma, confessa quando refere a sensação de perda e a dor consequente como temas obsessivos a que se refere a sua obra. Escandinavo diz Boe sentir-se em função da sua melancolia, dessa vontade de mergulhar na floresta densa como via para se encontrar.
O documentário de Nizan e Bergouhnioux conclui-se na Noruega, o país mais rico do mundo e um dos mais recentes pois só se tornou independente da Suécia há pouco mais do que um século (1905).
Sem a tradição cinéfila dos vizinhos os realizadores noruegueses ainda estão à procura do seu próprio estilo, mas já claramente com a solidão mostrada de forma minimalista no meio de grandes espaços. Jens Lien é um desses realizadores, que adopta anti-heróis como personagens, ansiosos por não se demarcarem dos demais à sua volta.
Bent Hamer é outro dos nomes mais considerados sendo dele o filme de um maquinista, que se reforma ao fim de trinta anos de profissão e sente grandes dificuldades em se adaptar aos novos ritmos do seu quotidiano.
Um dos filmes noruegueses de maior sucesso no mercado alemão foi  «A Arte do Pensamento Negativo» de  Bard Breien, que é a história bem humorada e plena de emoção de dois deficientes. O realizador, que se confessa um seguidor do estilo Dogma, conta como em criança se chocara ao descobrir que o pai era o editor das revistas pornográficas, que costumava apreciar ás escondidas.
Mas também se cultiva um tipo de cinema de terror por parte de Tommy Wikkola, que vive e trabalha em Alta, já a norte do Círculo Polar Árctico…
Depois de tantas entrevistas e extractos de filmes, forçoso é concluir que o cinema escandinavo é feito de uma diversidade muito grande de propostas e de preocupações, residindo nisso mesmo a sua maior afirmação de dinamismo...

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