Há poucos dias a Letónia foi a eleições e o governo de centro-direita reforçou a sua maioria, embora ainda deva contar com mais de 20% de eleitorado russófono, que votou contra ele. Mas a notícia trouxe uma questão recorrente a propósito dos antigos países do leste-europeu, que viveram décadas na órbita soviética: como é possível que se tenha passado de uma cultura política orientada para uma lógica de redução das diferenças sociais e de uma distribuição mais equitativa dos rendimentos disponíveis para este vale tudo de um capitalismo predador, caracterizado por uma assumida indiferença por quem não consegue alcançar condições para uma qualidade de vida minimamente digna?
Embora todos os romances, que abordem situações policiais numa atmosfera de guerra fria me suscitem sempre grandes dúvidas, consigo ler alguns deles com alguma capacidade de distanciamento para aferir da sua fundamentação ideológica.
Com o livro do genro do cineasta sueco Ingmar Bergman repete-se essa disponibilidade, muito embora esteja de regresso uma forma de maniqueísmo bem conhecida em que os pró-soviéticos são todos corruptos e cruéis e os seus opositores uns heróis sem mácula.
Que isso não era assim, demonstram-no os romances do insuspeito John Le Carré. Assim como no campo pró-soviético existia quem acreditava nos ideais generosos propagandeados pelo regime, também não faltavam oportunistas sem escrúpulos no lado contrário. Pensemos em gente da estirpe de um Walesa ou de um Havel para ficarmos conversados.
À beira de chegar ao fim de um romance, que já me acompanha há três meses, não posso dizer que «Os Cães de Riga» me esteja a entusiasmar. Desculpe-se o facto de ser um dos primeiros romances de Mankell a utilizar o inspector Wallander. Outros títulos posteriores revelaram-se bem mais interessantes. Com a vantagem de não incorrerem em ambiguidades nos seus pressupostos ideológicos...
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