Aos quarenta anos, Michael Schaap vai queixar-se ao médico dos seus problemas de erecção nas relações com a sua mulher, com quem já vive há dezoito anos.
Mas o verdadeiro motivo para essa visita tem a ver com uma investigação ao estilo de Michael Moore sobre o grande acontecimento sociológico ocorrido em 1998, quando surgiu no mercado a miraculosa pílula azul, publicitada por Bob Dole, um ex-candidato presidencial à Casa Branca. E que vinha dar resposta a uma preocupação masculina omnipresente no seu imaginário desde tempos imemoriais: a perda da potência sexual.
Uma das consequências dessa revolução medicamentosa teve a ver com o próprio vocabulário: deixou de se falar de impotência, passando-se, então, a considerá-la «disfunção eréctil». Mas a maior consequência do surgimento dessa pílula foi a de aumentar a insegurança masculina perante a mulher, com quem deixou de ter qualquer álibi para falhar. Cria-se, assim, uma nova dependência: sem a milagrosa receita, o homem fica com medo de falhar. E, por isso mesmo, toma-a de forma cada vez mais precoce, havendo quem o faça logo à saída da adolescência.
Quem ganha com isso é a indústria farmacêutica, capaz de multiplicar os seus já fabulosos lucros à conta de uma fobia cada vez mais expandida.
E acentua-se, também, aquilo que alguns já caracterizam como o declínio dos homens, intimidados pelas mulheres e buscando escape nas drogas, no desporto ou na pornografia. Ou no número crescente de grupos só de homens, que se reúnem para discutir entre si os seus avassaladores problemas de auto-estima...
No mundo competitivo de hoje, os problemas de realização sexual interligam-se com os de um cada vez mais difícil sucesso profissional.
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