Em 2003 o maestro da Orquestra Filarmónica de Berlim, Sir Simon Rattle concebeu um espectáculo diferente para uma das suas obras de referência: «A Sagração da Primavera» de Igor Stravinski.
O que o movia era a consideração de que a música clássica deve ser de todos e não apenas de homens de negócios e de suas entediadas esposas.
Contou para tal projecto com o apoio de uma escola berlinense frequentada por miúdos de bairros desfavorecidos e com dois coreógrafos ingleses: Royston Maldoon e a sua assistente Susannah Broughton.
As quase duas horas de documentário correspondem a uma das mais eloquentes demonstrações de um processo criativo. Porque as duas centenas e meia de miúdos entre os 8 e os 20 anos enfrentam uma experiência até então inédita nas suas vidas, que além do seu carácter artístico, os fará transformar.
Grube e Lansch alternam as entrevistas a Rattle, a Royston e a Susannah com as dedicadas a essas crianças e adolescentes, percebendo-se que muitos deles encaram essa vivência como a oportunidade para melhor se encontrarem consigo próprios.
Por exemplo Maria, a rapariga de 14 anos com a cara marcada pelo acne e que escolheu viver com o pai, porque sempre fora desatendida pela progenitora, talvez encontre aqui a solução para se tornar a boa aluna, que nunca foi.
Ou Martin que, aos 19 anos, encontra na solidão a estratégia para não ser tocado por outrem, talvez passe a encarar como natural esse contacto físico tão intimidante.
Ou ainda o jovem nigeriano Olayinska, que chegou órfão à Alemanha e ali vive sózinho, talvez encontre mais uma oportunidade para satisfazer a sua insaciável vontade de conhecimento.
A música em si é o que se sabe: o ritmo da peça de Stravinski apela às forças primitivas do homem e Rattle incentiva a sua orquestra e encontrar esse ritmo frenético, que o entusiasmo dos jovens bailarinos tornará ainda mais notável.
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