terça-feira, agosto 10, 2010

Livro: HENNING MANKELL, «OS CÃES DE RIGA» (3)

Henning Mankell escreveu este romance em 1992, ainda a queda do Muro de Berlim estava próxima e os efeitos na independência se faziam incertos. Por isso a história congeminada pelo escritor sueco para o seu inspector Walander corre o risco de parecer algo datada. Seja pelo anti sovietismo, que era então uma imagem de marca quase obrigatória nos intelectuais iludidos com a possibilidade do fim da História da luta de classes e a vitória definitiva do capitalismo, seja pela descrição de um ambiente báltico muito condicionado pela herança recente e pela aparente abertura das possibilidades trazidas pela sociedade do consumo.
Esta última questão é, aliás, bem aflorada por um dos responsáveis policiais contactados por Walander nas suas reuniões de trabalho em Riga: a explicação do crescimento da insegurança na Europa de Leste (quer na versão de crime organizado, quer na de corrupção de políticos e policias) decorre do sentimento de frustração inerente a  haver bens para consumir e falta de dinheiro para os comprar.
A opção pelo vale tudo para ceder à tentação do que é «oferecido» pelo mercado torna-se, então, no motor de uma transformação radical de valores e de costumes, que ainda hoje tarda em ganhar alguma estabilização…

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