É um filme a que desejarei regressar: «O Desprezo» de Jean Luc Godard. Datado de 1963, constitui uma adaptação do romance homónimo de Moravia e é rodado na maravilhosa vivenda de Curzio Malaparte em Capri.
A história é simples: há um argumentista (Piccoli) contratado por um produtor norte-americano (Jack Palance) a alterar o argumento da «Odisseia» de Homero a ser rodado por Fritz Lang.
Mas, carecido de dinheiro, esse escritor irá suportar, senão mesmo encorajar os avanços do produtor para com a mulher (Bardot). Que acaba por ceder como forma de vingança para com a cobardia do conjugue.
Mas, mais do que a intriga, esta obra-prima vale pela forma como Godard domina o movimento dos personagens e das câmaras numa sublime sequência de 25 minutos.
Escreve Jacques Doillon sobre ele, no «Nouvel Observateur» de 8 de Julho: Piccoli e Bardot vão de sala em sala, vestem-se, despem-se, tomam banho alternadamente, agridem-se, disparam frases de grande simbolismo como numa peça de Maeterlinck, e a câmara segue-os, precede-os, opõe-nos, separa-os, entrando e saindo dessas divisões. A sequência é prodigiosa . Godard usa o movimento como Schubert os acordes, Aragon a metáfora e George La Tour a luz: anda às voltas e regressa ao ponto de partida.
Virtuosidade inesquecível, técnica perfeita, mestria intelectual absoluta.
Só para rever esta seuência vale a pena regressar ao filme. Sempre com a noção de se não tratar de um projecto pretendido pelo realizador, mas o resultante do ponto de equilíbrio precário das suas violentas altercações com os produtores (Carlo Ponti e Joseph Levine)
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