A notícia do Diário de Notícias de dia 17 de Agosto é terrível, embora não surpreendente:
a execução a tiro de uma viúva grávida, há poucos dias, e agora a morte por apedrejamento dos supostos adúlteros, demonstram bem que há zonas do Afeganistão onde os insurgentes extremistas impõem os seus códigos de conduta e fazem valer a sua lei. À margem das instituições nominais do país, da justiça oficial e da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Ao prosseguir pelas páginas do livro de reportagens assinado por Alexandra Lucas Coelho no Afeganistão, o que podemos à partida admirar é a coragem da jornalista ao cirandar por um território aonde muitos querem adoptar princípios civilizacionais de acordo com os parâmetros hoje vigentes nas sociedades ocidentais, mas muitos teimam em manter costumes bárbaros em nome de uma ideia fanatizada do transcendente.
Visitando Jalalabad ou Kandahar, Helmand ou Cabul, a autora dá conta de um espaço em transição: ou evolui no sentido da História ou regride para um estado de imprevisível enclausuramento numa explosiva campânula de ódios e de crueldades.
O que nunca se deverá deixar de recordar é que, há trinta e cinco anos, o país teria podido evoluir para uma sociedade baseada em princípios progressistas, mesmo que condicionados pelos limites impostos pela influência soviética. Pena que o regime criminoso de Ronald Reagan tenha apostado nos talibãs como forma de contrariar essa possibilidade. As opções então assumidas pelo Pentágono e pela CIA redundaram inevitavelmente no tiro de ricochete, que o 11 de Setembro representou...
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