segunda-feira, julho 28, 2008

Casa das Penhas Douradas (3)

A tarde cai e o sol infiltra-se pelos interstícios dos ramos ou do tronco das árvores. Filtros, que dão a ilusão de não haver só um, mas vários sóis a iluminarem esse crepúsculo, que se espraia sobre a serra.
Mas, mais do que tal ilusão, sobra a evidência de uma simetria na forma como o paisagista do espaço entendeu a distribuição dessas árvores.
O encanto também tem dessas coisas: deixe-se a Natureza manifestar-se sem controlo e é o caos. Cabe, então, ao homem, domá-lo e orientá-lo para o que é a pulsão humana para a ordem, para a harmonia da proporção.
Porque orientado para o lazer, tudo neste edifício é pensadopara refrear os motivos de inquietação. Sobrará a escravatura inevitável do telemóvel, mas essa é da exclusiva responsabilidade de quem aqui deveria procurar o encantamento e não se livra de quantas correntes o tendem a aprisionar aos compromissosda cidade. Arriscamos uma surtida ao terraço, mas, apesar de estarmos em Julho, a tarde está demasiado fria para arriscar um arrefecimento. Não importa: abrem-se as cortinas e é no conforto do colchão, que nos entregamos ao prazer quase esquecido de observar a lenta declinação do sol no horizonte, transmutando-se do seu branco amarelado muito intenso para o alaranjado que, a acreditar nos antigos, anuncia um tempo bom para o dia seguinte. Se a vida é uma permanente rotina, sacudida por breves e luminosos momentos mágicos,este é decerto um destes…

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