sábado, julho 19, 2008

Casa das Penhas Douradas (1)

Hansel e Gretel ficaram enfeitiçados pela casinha de chocolate, sem saberem dos riscos que corriam.
Os perigos das casas encantatórias são esses: ficarmos-lhes de tal modo presos, que não nos apeteça delas zarpar.
Talvez por isso algumas são concebidas ou transformadas em hotéis de charme. Porque é disso mesmo que se trata: de atracção, de fascínio, de sedução, de deleite, de deslumbre, de enlevo, de entusiasmo …
Quantos sinónimos haverá para exprimir essa rendição ao espaço desde o primeiro instante?
As lonjuras ao alcance de um olhar forçado a recorrer às suas lentes panorâmicas. A verdura matizada de tantas tonalidades diferentes, espalhada por toda a volta e a começar à beira das janelas. E, no seu interior, o serviço exemplar de quem nos recebe como se fôssemos da família, com uma simpatia que vai muito para além do irrepreensível profissionalismo…
O quarto, que nos cabe - o seis - é funcional dentro da relativa exiguidade do seu espaço. Mas quem se preocupa com metros quadrados, quando se abrem as cortinas e temos todas as serranias e vales em volta a entrarem-nos quarto adentro?
E, ali a dois passos, está a piscina aquecida, com janelas para as mesmas distâncias, acrescidas das que dão para o céu para nele se verem cúmulos e estratos a desfilarem.
Depressa se chega a esta constatação: como livrar-nos das sereias cantoras desta casa, que nos incitam a nela permanecer? A dela não voltar a sair?
Só um motivo pesa: é que para além daquelas montanhas, no fatigante bulício da cidade, restam os compromissos inadiáveis, aqueles que funcionam como venda aos nossos olhos e tampões nos nossos ouvidos, quando é a inadiável hora de partir…

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