quarta-feira, julho 02, 2008

Na morte de Albert Cosséry

A morte de Albert Cosséry foi anunciada há alguns dias e passaram-me pela rama alguns textos a seu respeito.
Embora nunca o tenha lido, a actualidade dos seus temas de eleição é indiscutível.
Embora situando as suas histórias no Egipto, Cossery rejeita qualquer utilização dos estereótipos exóticos e folclóricos, que costumam primar na escrita focalizada em ambiências orientais. O seu projecto é outro: o de demonstrar que, mesmo excluídos dos bens materiais, os mais desfavorecidos acabam por encontrar substitutos para a inacessível felicidade.
Tais personagens desprezam a agitação mecânica da cidade e da organização humana, como se qualquer movimento constituísse a expressão de uma conspiração contra o homem apostado na sua paz interior.
A única forma de consumar devidamente a existência residirá em possuir o tempo como aliado, mesmo que nada mais se possua.
Esses inadaptados às manifestações da vida social - que se revela hostil, insensível, fria e distante) acabam por ser duplos de um autor cujo cepticismo atávico a quaisquer teorias ou doutrinas o levou a libertar o seu lado irracional e irónico, quiçá sempre imprevisto na sua sempre presente pitada de loucura.

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