Os franceses adoram História. Mas a grande questão é: entendendo-a como ciência (ou seja com um peso relevante do que é ou não rigorosamente verdadeiro) ou como arte (ou seja, permitindo-se liberalidades conceptuais sob a forma de romance?
Muitas vezes, para tornar exequível o seu romance, o historiador travestido em escritor tem de tornear esse rigor científico.
Vem isto a propósito do livro de Mona Ozouf «Varennes, la mort de la royauté» em que se aborda a fracassada tentativa de fuga de Luís XVI, de Maria Antonieta e dos seus filhos, interrompida naquela localidade em 20 de Junho de 1791.
Tal como muitos outros eventos históricos, a percepção da importância da data não é imediatamente entendida. Nos dias que se seguem a Assembleia procurará apresentar esses acontecimentos como decorrendo da vontade de Luís XVI em ir auscultar a opinião dos franceses da província quanto ao que se passava em Paris. Por isso ele vê momentaneamente restaurados os seus poderes.
Por isso Mona Ozouf defende que o episódio contém elementos de tragédia, de farsa, de romance e de enigma.
Será depois, que se conclui ter crescido nesse dia o sentimento republicano, que incita os franceses a dissociarem-se da sua realeza.
Depressa se associará a fuga do rei a uma deserção dos seus deveres para com o povo, que dele conservara um conceito sacralizado. E, numa revolução em que se sente omnipresente as conspirações de uns contra outros, Varennes constituirá o principio do fim da dinastia dos Capetos.
Sem comentários:
Enviar um comentário