Uma das características que aprecio em Stephen King é a capacidade de atracção de histórias, que acabam invariavelmente mal, mesma se iludidas algumas vezes sob a aparência de um final feliz.
Neste conto em particular nem isso sucede: na variante de «O Retrato de Dorian Gray», que ele explora, o quadro capaz de alterar a realidade de quem o vê saiu da lavra criativa de um drogado suicida, incapaz de viver com as imagens terríveis saídas da sua imaginação.
Richard Kinnell, o protagonista, é uma réplica do próprio autor, quando se apresenta como escritor de livros de terror. É ele quem encontra o quadro numa típica venda de garagem, quando está em trânsito entre uma conferência em Boston e o regresso a casa em Derry.
Logo tomado pelo sortilégio da imagem naturalista de um jovem a olhá-lo ao volante do seu descapotável, compra-o e leva-o para a bagageira do carro.
É na curta visita à tia Trudy, que Kinnell toma consciência da especificidade daquela pintura: o rapaz nela representado muda de posição e, sobretudo, de expressão, dela sobressaindo a ameaça representada pelos dentes afiados, como que os de um canibal.
Apesar de se tentar desfazer dele, ora atirando-o para a lixeira, ora reduzindo-o a cinzas mediante um fogo purificador, o rapaz do quadro mostra-se resistente e volta sempre a procurar caminho para a casa do escritor. Que sucumbirá à sua maldita determinação assassina...
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