terça-feira, maio 24, 2011

Conto: STEPHEN KING, RIDING THE BULLET

Estudante na Universidade de Maine, Alan Parker precisa de regressar o mais rapidamente possível à cidade natal (Lewiston), porque recebeu um telefonema de uma vizinha a contar-lhe do enfarte da mãe e do seu internamento nas urgências do hospital.
O problema é que tem o carro na oficina e uma distância de cento e vinte quilómetros por vencer. A única alternativa será a de se pôr à boleia, quando a tarde está a cair.
O primeiro carro a parar cheira imenso a urina e é conduzido por um velho de aspecto grotesco, que passa o tempo a mexer na zona do sexo.
Quando consegue desempecilhar-se de tal boleia, e porque nenhum carro parece disposto a parar, Alan vai andando a pé até junto a um cemitério, aonde vê a cova recente de um jovem, George Staub, cujo epitáfio deixa pressupor ter perdido a vida ao volante.
É esse mesmo George Staub, quem lhe aparece daí a pouco na estrada a dar-lhe boleia. Aterrorizado, Alan vê nitidamente os pontos aonde a cabeça decepada tinha sido ligada novamente ao tronco, mas tem de ir participando nas conversas para aonde o outro o vai conduzindo. E que evocam passeios infantis à Feira de Laconia, aonde a grande atracção era o Bólide.
Quando já se vêem as luzes de Lewiston, Alan é confrontado com uma espécie de escolha de Sofia: o condutor é o enviado da Morte e confronta-o com a opção de ser ele ou a mãe a prosseguirem aquela viagem.
Trata-se de um dilema moral, que Alan terá segundos para resolver. Se decidisse por si toda a expectativa de uma vida longa, ficaria gorada. Se escolhesse a mãe, viveria sempre com a má consciência de lhe ter precipitado a morte, mesmo sabendo-a na curva descendente para ela.
Contrafeito é essa segunda alternativa a que assume!
E aqui Stephen King demonstra a sua notável mestria: qualquer escritor convencional levaria Alan ao quarto da doente e daria com ela acabada de morrer. Ou, então, no seu derradeiro estertor, para acentuar o dramatismo da história.
Mas, pelo contrário, ela está bem, já em vias de recuperação. E é o próprio personagem quem acaba por colocar a questão de ter vivido ou não esse encontro, já que despertara junto ao cemitério e fora num outro carro, que chegara, de facto, à cidade. No entanto, o pin da Feira de Laconia, que George Staub lhe dera durante a conversa entre os dois estava ali bem presente na sua mão...
Os anos passam. Ele forma-se, arranja um emprego simpático e a mãe continua a fumar desalmadamente.
Um dia perde o pin e não estranha receber um telefonema: a mãe acabara de ter um novo enfarte. Dessa vez, fatal.
Alan também não estranha encontrar o amuleto debaixo da cama dela, mas sabe que não deverá atribuir grande importância ao assunto.
No fundo, George Staub nunca lhe dissera, quando é que, efectivamente, a viria buscar. E ele ainda teria tanta vida pela frente…
Resta acrescentar outra curiosidade relacionada com este conto: publicado em 2000 na internet, foi, na altura, uma experiência nova de King: testar novas formas de divulgação dos seus trabalhos.  Ele não deixaria, um par de anos depois, de a republicar, então na versão tradicional em papel...

Sem comentários: