domingo, maio 08, 2011

Filme: JOHN HUSTON, «O HOMEM QUE QUERIA SER REI»

Se há tema frequente nos filmes de John Huston é o de encararmos com personagens, que se aproximam tanto da utopia, que ficam deslumbrados e deitam tudo a perder. Foi assim com o Tesouro da Serra Madre. Repetiu-se, quase por igual, com O Homem que Queria Ser Rei. Que é uma grande história de Rudyard Kipling que, antes de morrer, o realizador quis traduzir em filme.
Tudo começa quando, uma noite, aparece ao escritor um maltrapilho meio deformado, que se apresenta como sendo Peachy Carnehan (Michael Caine), um garboso ex-soldado da Coroa, que conhecera três anos antes.
Na altura, esse Peachy e o seu sócio, Danny Dravot (Sean Connery), tinham decidido partir à conquista do Kafiristão, território quase desconhecido nas encostas da cordilheira Himalaia, que só os exércitos de Alexandre, o Grande, tinham conseguido conquistar.
Financiando-se com uma trapaça cometida contra o Rajá de Dogumber, os dois homens partem nas suas mulas carregadas de armas, cientes de que «se um grego conseguiu, nós também conseguimos».
Depois de ultrapassarem o desfiladeiro de Khyber, autêntica fronteira do Império, os dois amigos enfrentam bandidos afegãos, neves, rios tumultuosos até chegarem a Er Heb, aonde ajudam as mulheres que lavavam roupa no rio a livrarem-se de assaltantes de outra aldeia, e aonde conhecem o gurka Billy Fish, único sobrevivente de uma expedição de geógrafos de que nunca mais se ouvira falar.
Treinando os anfitriões, Danny e Peachy conseguem, acolitados pelo fiel Billy Fish, formar um exército, que não tarda a acumular vitórias por toda a região. Até que são os próprios aldeãos a identificarem Danny com Sikander, o deus que tinham passado a venerar desde a sua passagem por ali e que não era mais do que o antigo rei macedónio.
Chamados à cidade santa de Sikanderkul, os dois homens sobrevivem devido à forma como Danny vê confirmada a sua natureza divina: o colar maçónico, que traz ao peito e cujo símbolo é o mesmo ali venerado naquela réplica da Acrópole.
Considerado legítimo dono de um valiosíssimo tesouro, Danny já só pensa em voltar com Peachy e com Billy para a civilização, carregado de tal pecúlio, mas terá de esperar quatro meses pela época mais favorável. Ora esse compasso de espera será suficiente para se lhe toldar a mente e ele decidir ficar enquanto rei de toda aquelas aldeias casando com a bela Roxane, uma rapariga que conhecera numa das tribos e cujo nome era o mesmo do de uma das mulheres com quem Alexandre contraíra casamento naquela região.
O pior está então para acontecer: Peechy ainda espera pela cerimónia do casamento para regressar às terras de colonização inglesa com a sua parte do esbulho. Mas a recatada Roxanne teme que se cumpra a regra de ser instantaneamente carbonizada qualquer mulher com quem um deus se procure consorciar. E morde o rosto de Danny que, ao sangrar, revela a sua condição mortal.
Os sacerdotes de Sikanderkul compreendem, então, que Danny não é nenhum descendente de Alexandre. mas sim um trapaceiro disposto a enganá-los. O resultado revela-se trágico: Billy é linchado, Danny atirado de uma ponte para um fundo precipício e Peechy crucificado.
Agora, três anos depois, é este último quem traz a Rudyard Kipling a evidência do seu relato: a caveira coroada do seu amigo…
O filme constitui um excelente exemplo de um cinema de aventuras como já dificilmente se vê actualmente. Sem grandes efeitos especiais, e com actores credíveis nas composições por si interpretadas...

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