A história já está contada e recontada, tendo um inevitável sabor a requentado: um artista de country já em fim de carreira, com o alcoolismo a projectá-lo para uma inevitável auto-destruição.
Aqui a novidade não é propriamente uma redenção por efeito do amor, mesmo que perdido, mas a interpretação de Jeff Bridges, que comprova a regra de ser actor capaz de tornar interessante o mais obscuro projecto cinematográfico com que se compromete. Eventualmente outros motivos de interesse radicarão em Colin Farrell a cantar este género de música ou o velho Robert Duvall a lembrar que ele próprio já protagonizara um projecto similar.
Quando o filme começa Bad Blake já está no fundo do poço: completamente dependente do álcool está falido e condenado a cantar em espeluncas no meio de nenhures.
E, no entanto, ele estivera na ribalta, quando compusera temas conhecidos por toda a América. Fora o tempo em que ensinara a grande vedeta de agora, Tony Sweet, a tocar guitarra.
Tudo irá mudar para ele em Santa Fé aonde acede a dar uma entrevista à sobrinha do pianista, que lhe serve de acompanhante nos dois concertos, que aí realizará.
Jean Craddock já teve a sua dose de fracassos amorosos, dos quais sobrara um filho de quatro anos, que adora. Ora, Bad também tivera um filho, cujo paradeiro desconhece, e que tinha precisamente essa idade quando o deixara de ver, duas dúzias de anos atrás.
Embora procure evitar nova desilusão a jornalista acabará, inevitavelmente, na cama do cantor. Sobretudo, porque ele lhe afirma não saber a razão porque lhe apetece pedir desculpa por ser muito menos interessante do que ela o terá imaginado.
Essa novidade na sua vida põe-no a compor novas canções, que Tommy Sweet lhe garante comprar por bom dinheiro, mesmo se as bebidas o continuem a atrair como poderosos imãs.
Quando tem um acidente com a sua velha carrinha e fica com o tornozelo partido é em casa de Jean, que irá recuperar, tornando-se cada vez mais cúmplice de Buddy, o filho dela, que o adopta como o pai de substituição.
Mas a relação tende a arrefecer quando, já capaz de andar, mesmo coxeando, ele regressa a Houston, aonde prossegue a criação de novos temas. Entra-se então num limbo em que existe alguma recuperação criativa no intervalo entre grandes bebedeiras.
O lado dramático do filme atinge o seu clímax, quando Jean vem visitá-lo a Houston e ele passeia com Buddy num parque de diversões, perdendo-o, quando decide parar para beber um copo num bar.
Muitas horas depois, quando o miúdo aparece, Jean nem sequer o deixa desculpar-se, regressando de imediato a Santa Fé.
É essa perda irremediável, que o convence a uma cura de desintoxicação numa clínica cujos custos são suportados por Tommy.
Numa elipse, o filme passa para dezasseis meses depois, quando o cantor da moda tem grande sucesso com os novos temas por ele compostos e Jean lhe surge ao serviço de um jornal de maior dimensão do que o anterior. E com um anel de noivado no dedo, a privá-lo das derradeiras ilusões quanto á possibilidade de a vir a recuperar.
Esta síntese dá para compreender a banalidade do argumento, que reproduz o estilo xaroposo do género de música, que lhe serve de banda sonora. Mas, para além de Bridges ou de Farrell, o realizador mostra a América dos grandes espaços, das nuvens brancas recortadas no azul límpido dos céus e das estradas a perder de vista.
Mesmo que facilmente olvidável, «Crazy Heart» acabou por ser um entretenimento agradável para um domingo à tarde.
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