sábado, abril 23, 2011

Novela: STEPHEN KING: «AS IRMÃZINHAS DE ELURIA»

O meu prazer pela leitura de livros de Stephen King já tem muitos anos, por muito que considere uns muito entusiasmantes e outros não tanto.
Uma das mais gratas memórias relacionadas com este autor aconteceu há uns vinte e tal anos, quando comprei uma edição de bolso de «Cujo» em Buenos Aires e passei toda a madrugada seguinte a devorá-lo por inteiro, apesar de ter umas centenas de páginas e estar escrito em espanhol.
Nunca outro livro me causou essa sensação de me comprometer apenas na leitura de mais um capítulo e, acabado esse, logo me decidir a passar para o seguinte movido pelas mesmas «boas» intenções.
Esse sucesso de Stephen King tem a ver com os nossos medos, sejam os mais conscientes - relacionados com a morte ou as diversas formas de agressão social - sejam os que nem sequer conseguimos verbalizar por se situarem nos densos territórios atávicos da mente.
No caso desta novela, publicada em 1998 na antologia «Legends», organizada por Robert Silverberg, encontramos uma mistura de géneros a interligarem-se numa ficção consistente: há o território mítico do faroeste aonde o cowboy solitário anda em perseguição solitária montado num cavalo à beira de estoirar.
Há a conotação medieval do nome do protagonista (Roland de Gilead)a remeter para a gesta dos cavaleiros da Távola Redonda e a sua eterna busca do Graal, que redima uma época apocalíptica aparentemente irreversível.
Há esse ambiente de ficção científica traduzido em mutantes verdes, com comportamento bizarro (quais zombies assassinos) derivado da sua exposição a radiações tóxicas.
Há a vertente vampírica protagonizada nessas Irmãzinhas, que não são mais do que uma espécie de freiras apostadas em cuidar dos feridos até eles estarem suficientemente fortes para terem o seu sangue sugado até à última gota. Sem faltar nesta última estratégia o surgimento de Jenna, a vampira, que por amor ao protagonista  tenta ser quem não é e não encontra outra forma de o salvar do que ajudá-lo a fugir do tenebroso hospital para se desintegrar em seguida em milhentos insectos rastejantes.
Se buscamos entretenimento nesses diversos géneros é por eles remeterem para a nossa necessidade de catarse em relação a muitas das nossas angústias e frustrações. E King, enquanto hábil intérprete dessas carências do inconsciente colectivo dos nossos dias tem garantido uma produção em série de textos, que o consagram como um dos mais bem sucedidos escritores norte-americanos...

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