Escrito em 1959, quando Salazar estava a lamber as feridas da derrota política, que Humberto Delgado lhe conferira, este conto deverá ser entendido à luz do que se passava na época já que o protagonista é um homem que vivia numa pequenina cabana à beira-mar, lá para as bandas das Áfricas, das Índias ou dos Brasis, onde o calor é tanto que o mar parece de vidro azul, e as florestas crescem tanto que se apertam, apertam, e chegam mesmo ao pé da água.
Solitário e amiúde obrigado a proteger-se das tempestades, o protagonista acaba por tomar-se de afeição por um estranho peixe-pato, que não só lhe traz comida saborosa em forma de peixes por ele pescados, como se enrosca carinhosamente nas suas pernas. E fica aqui a suspeita de uma ambiguidade sexual, que faz algum sentido em função do que se vai conhecendo do escritor.
Nessa linha de abordagem faz Antão todo o sentido a castração a que esse homem solitário é sujeito, quando, após mais uma dessas violentas tormentas, aparecem pássaros saídos do conhecido filme de Hitchcock e rapidamente põem um ponto final naquela suspeita empatia...
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