sexta-feira, abril 22, 2011

Livro: ORHAN PAMUK, «ISTAMBUL - MEMÓRIAS DE UMA CIDADE» (5)

Chegamos ao capítulo em que o Nobel turco recorda o prazer com que a mãe lia as rubricas de coscuvilhices nos jornais, lamentando que o seu estatuto de remediada não pudesse suscitar o mesmo interesse desse tipo de jornalismo.
E, no entanto, quando o jovem Orhan ainda vivia os seus mais verdes anos, o estatuto de riqueza ainda era vivido com alguma contenção, . Na memória colectiva desse estrato, figuram ainda as espoliações prepotentes de paxás e outros governantes do defunto Império Otomano, que não se coibiam de olhar com cobiça para quem arranjara forma de acumular bens materiais.
O sinal mais evidente dessa condição era o gosto cosmopolita, que levava os seus titulares a desprezarem as tradições em proveito dos mais recentes sinais da cultura ocidental.
Não contestando essa atracção pela modernidade, Pamuk não deixa de lamentar o parolismo desse tipo de comportamento e o que ele implicou na perda de valioso legado histórico, votado ao abandono e, consequentemente, ao fogo destruidor.
Istambul surge, assim, como um espaço de contradição entre dois tempos e duas culturas, atraindo os estrangeiros precisamente por essa simultânea sensação de familiaridade com a do incontornável exotismo.

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