Larissa traz com ela uma história singular, que faz relacionar o escritor Álvaro Mutis com o realismo mágico, que tanto caracterizou a literatura latino-americana da segunda metade do século XX. Porque ela terá conseguido comunicar e até relacionar-se amorosamente com dois mortos por ela encontrados a bordo do «Lepanto», a carcaça flutuante, que a trouxera também até ao istmo panamiano.
O primeiro desses mortos fora um militar do império napoleónico e o segundo um dos membros do Conselho dos Dez veneziano, qualquer deles lhe despertando os sentidos como nunca ninguém conseguira. Mas à medida que nos afastávamos do Mediterrâneo, depois de termos atravessado o estreito de Gibraltar, as visitas dos meus dois amantes foram-se espaçando. Mas o que mais me intrigava e produzia uma pungente ansiedade era a mudança, apenas perceptível de início, do seu procedimento.
Ilona sente-se tão impressionada com a má sorte calhada à rapariga, que Maqroll avisa-a: em vez de seres tu a arrancá-la do pântano que a devora, é ela que te está a arrastar com uma força que nem tu mesma estás a avaliar.
Daí que Maqroll sinta urgência em livrar ambos dali passando o negócio a um dos seus colaboradores e afastando-os da nefasta influência daquela estranha mulher. Sossegava-o a fidelidade à vida de Ilona, que a impediria de se deixar arrastar para a destruição. Mas enganava-se, porquanto Larissa atrai-a a uma armadilha e leva-a consigo para a morte sacrificial.
Quando Maqroll volta à beira do «Lepanto» só encontra um monte de cinzas, de cujo fogo os bombeiros tratavam do rescaldo.
Sozinho, o protagonista sente uma perda absoluta: O que a morte leva para sempre é a sua recordação, a imagem que se vai apagando, diluindo, até se perder e é então que nós começamos a morrer também. A ausência de Ilona, estando ela viva, era algo que conhecia muito bem e com o qual estava familiarizado. Tentar imaginar a sua ausência definitiva era algo que me custava tanto esforço, tanta dor que preferia regressar de novo às recordações.
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