domingo, março 27, 2011

Filme: CHARLES FERGUSON, «INSIDE JOB»

Um dos mais óbvios resultados da visão de um filme como «Inside Job» é a ambiguidade ideológica em que ele mergulha ao condenar a Administração Obama pelo seu conluio com a alta finança e ao dar argumentos aos anarquistas de direita, que dão força ao tenebroso «Tea Party».
Quase tudo no documentário tem relevância para a compreensão da forma como se chegou a este estado de coisas, mormente à crise de Setembro de 2008, quando o Lehman Brothers abriu falência e pressupôs o fim de um tempo de desregulamentação total das operações especulativas de Wall Street e da City.
Uma sucessão de acontecimentos iniciados com Ronald Reagan, sob inspiração das teorias ultra-liberais da escola de Chicago, que acreditava piamente nas virtudes auto-reguladoras do mercado, e nas vantagens da redução ao mínimo da margem de actuação das entidades reguladores.
O que sai desmascarado à partida é o capitalismo financeiro, ao arranjar produtos derivados, que lhe propiciarão sempre lucros obscenos, quer eles se revelem lucrativos, quer ruinosos. E o facto de serem sempre os mesmos a pagarem os custos da avidez gananciosa dos banqueiros não lhes pesa na consciência: milhões de gente desabonada, que perde empregos, casas, pensões de reforma. Ou ainda a forma como esses interesses financeiros se souberam insinuar no poder político de forma a transformar este numa mera ferramenta de facilitação dos seus planos estratégicos.
Gente como Alan Greenspan ou Larry Summers serviram republicanos e democratas sem neles se divisar outra intenção, que não fosse a de sabotar qualquer iniciativa capaz de tolher os movimentos à banca.
Hoje são maiores as desigualdades entre o 1% de ricos e a grande maioria de pobres. Que deveriam revoltar-se contra este estado de coisas, mas são inibidos pelos professores universitários, que pregam as virtudes dessa desregulamentação e pregam incessantemente contra os riscos de «socialismo», que os insatisfeitos com este modelo de funcionamento do sistema pretenderiam implementar
É precisamente o medo de chamar os bois pelos nomes, que faz o filme de Ferguson cair na tal ambiguidade. Porque serve às maravilhas para os discursos das Palins e dos Gringrichs, segundo os quais tudo não passaria de um conluio de Wall Street com os políticos federais, pelo que a solução residiria em apoiar os demagogos locais cujos discursos inflamados exigem a redução dos impostos e das estruturas federais à mínima expressão. Abrindo-se, assim, o caminho para uma direita cada vez mais radical e não menos subserviente para com os poderes financeiros, que, em palavras, assumiria combater.
No olho da tempestade podemos olhar para toda esta realidade e acreditar, que só mediante os bons métodos leninistas, será possível combater e derrotar este sistema de organização económica, que está a dar provas de acelerado esgotamento...

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