E acontece o inevitável: a teimosia do capitão Lafargue conduz o cargueiro «L’ Utile» até aos recifes, que emergem do Índico e lhe rasgam o casco pejado de mercadorias e de escravos.
O naufrágio do navio da Companhia das Índias é um evento histórico, que surge documentado em relatos da época, um deles da autoria do próprio cronista da tripulação.
Irène Frain pega nessa documentação e cuida dela ficcionalmente dando ao leitor a caracterização sociológica da tripulação, constituída por oficiais oriundos de uma aristocracia falida ou de uma burguesia arrivista e por marinheiros analfabetos sem outra alternativa para a fome nas suas terras do que aventurarem-se nos mares de todos os oceanos.
Estamos em 1761, quando ainda está distante a Revolução Francesa, mas com a relação de forças a bordo a exprimir o que politicamente estará a marinar na retaguarda: entre o absolutismo suicida de Lafargue e a sensatez impotente do imediato Castellan reflecte-se o estado de alma das classes sociais francesas desse período. E os escravos, mercadoria tratada como se de objectos inanimados fossem, mais não são do que uma variável adicional na terrível equação por que passarão os náufragos da ilha Tromelin.
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