Os anos passarão e a importância de José Saramago tenderá a consolidar-se junto de novos leitores. Porque as suas histórias são universais e as palavras reflectem valores éticos a contracorrente desta sociedade humana obrigada a mudar sob pena de se despenhar de elevado abismo. Mais do que um maravilhoso escritor, com romances de valor superlativo (do «Memorial do Convento» à «Viagem do Elefante»), Saramago foi um filósofo que convida a tudo equacionar.
O filme de Miguel Gonçalves Mendes será documento imprescindível para conhecer a sua personalidade generosa, acompanhando-o durante os seus últimos anos de vida, sempre acompanhado pela inseparável Pilar sobre quem ele tece merecida homenagem ao dizer-lhe que teria morrido muito mais velho se a não houvera conhecido.
As imagens das suas deambulações entre Lanzarote e as grandes metrópoles europeias e sul-americanas, sem esquecer a sua Azinhaga natal, dão conta da sua intensíssima agenda para receber prémios e homenagens, participar em conferências e assistir a espectáculos para manifestar a sua solidariedade com as causas justas.
Saramago é, de facto, um cidadão participativo nos grandes debates do seu tempo por muito que o seu cepticismo o levasse a manifestar um inabalável pessimismo com o curso das coisas. Embora explicitasse, amiúde, a ansiedade por notícias esperançosas, sinalizadoras de grandes mudanças civilizacionais.
Felizmente que essa ambivalência era também a da sua vida, porquanto escritor tardio, conheceu as maiores dificuldades para garantir a sobrevivência até usufruir de um patamar de fruição afectiva e de qualidade de vida como a testemunhada no filme. Mas era quando lhe faltava a maior e mais inalcançável forma de riqueza: o Tempo.
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