domingo, novembro 14, 2010

Filme: «A ESPERANÇA MORA ONDE MENOS SE ESPERA» de Joaquim Leitão

Na semana em que morreu um dos mais conhecidos críticos de cinema das últimas décadas (Manuel Cintra Ferreira), vale a pena cumprir aquela que costumava ser a sua estratégia de apreciação de qualquer filme: ver o que nele se pudesse salvaguardar de positivo, por muitos que fossem os seus aspectos negativos.
«A Esperança Mora Onde Menos se Espera» tem interpretações toscas e personagens estereotipados sem a densidade complexa, que podemos detectar até nos espíritos mais simples. Mas trata de temas pertinentes do nosso tempo: as consequências de não respeitar o efeito de manada, a proletarização da classe média, a depressão causada pelos becos suscitados pela nossa sociedade, o racismo, a integração em universos multiculturais, etc.
Que todos esses temas sejam areia demasiada para a valia de Joaquim Leitão enquanto realizador é o que se conclui do filme, que adopta lógicas discursivas de telenovela, até no final feliz com que coloca ponto final nos impasses dos personagens.
A história descreve-se em breves palavras: uma família -se quando o pai, treinador de futebol, fica despedido. Saindo de casa para procurar sobrevivência em Angola, a mãe não assiste à sucessão de fracassos  dos meses seguintes. Primeiro o carro, depois a mobília, e enfim a casa, tudo se esvai no tropel de dívidas por pagar. E a qualidade de vida acima da média transforma-se na de qualquer família de subúrbio.
Até que a redenção decorre precisamente dessa vertiginosa queda no abismo: é nele que pai e filho descobrem razões para voltarem a ser felizes...

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