sábado, novembro 20, 2010

Filme: «Le chercheur et le chaman» de Werner Kiefer

Existe uma completa contradição entre a nossa sociedade ocidental tecnologicamente desenvolvida - com medicamentos para quase todos os problemas de saúde e com sistemas de assistência à doença capazes de lhe minimizarem os efeitos sociais -, e as sociedades mais primitivas aonde todos os males são explicados por influências sobrenaturais e as plantas servem de base para mezinhas miraculosas.
E existe uma tendência voyeurista da nossa parte para espreitar, com alguma sobranceria, tais idiossincrasias.
O documentário de Werner Kiefer enquadra-se nessa corrente de cinema documental, que alimenta profusamente tantos canais europeus e norte-americanos de informação.
A equipa de filmagens foi para o pequeno estado indiano do Sikkim, para testemunhar as práticas medicinais de um dos seus múltiplos povos, os Lepcha. São eles os únicos a ainda poderem franquear uma zona montanhosa já encostada aos Himalaias, o Dzongu, por se tratar de uma zona militarmente sensível. Não esqueçamos que o Sikkim foi independente até 1975, altura em que o governo de Indira Gandhi o anexou sem qualquer reacção da distraída comunidade internacional.
Como não está propriamente vocacionado para fazer ondas, o realizador focaliza a sua atenção no xamã Dechen Lepcha e no osteopata Mandela, que cuidam dos cerca de duzentos habitantes da aldeia de Saffu, que fica a 2500 metros de altitude.
Como a medicina convencional custa aqui bastante dinheiro, os pobres aldeãos estão cingidos a entregarem-se aos cuidados de saúde dos dois homens, cujos conhecimentos foram transmitidos hereditariamente. Embora reconheçam terem, entretanto, acumulado mais conhecimentos do que os seus antepassados. Sobretudo quanto aos efeitos benéficos das plantas da região. Motivo porque merecem a atenção de investigadores da Universidade de Ganftok, que estão a investigar e a reportar tais conhecimentos.
É o caso de Bharat Pradhan que visita regularmente Saffu para aproveitar da experiência de Dechen e de Mandela, aprofundando assim os seus conhecimentos da medicina tradicional dos Lepcha.
São assim identificadas quatro mil espécies de plantas num reduzido espaço geográfico que, para além do seu interesse medicinal, ilustram superlativamente a riqueza da biodiversidade da região.

Sem comentários: