segunda-feira, novembro 01, 2010

Livro: OS CÃES DE RIGA de Henning Mankell

No início do romance temos uma balsa, que vai parar a uma praia sueca com os corpos de dois mafiosos, abatidos a tiro.
Ainda Wallander está a iniciar a investigação e já a balsa desaparece das instalações da polícia de Ystad sem dar tempo para concluir que ela estava pejada de droga.
Porque ela proviria da Letónia, as autoridades de Riga enviam um dos seus investigadores para colaborar com a investigação de Wallander. Que simpatizará com esse major Liepa, que chega a convidar para uma noitada de copos em sua casa.
No entanto, ao regressar a casa, Liepa é assassinado nessa mesma noite, o que força Wallander a seguir-lhe os passos, uma vez mais numa lógica de intercâmbio entre as autoridades de ambos os países.
O que o investigador sueco irá deparar é com um cenário inquietante: como ainda estamos no início da década de 90, os estados bálticos ainda não saíram da órbita soviética e, mesmo em Moscovo, ainda não se definiu se prevalecerá a via oportunista de Ieltsin e seus apaniguados, ou se os membros do decrépito partido bolchevique terão alma suficiente para se oporem à desastrosa perestroika.
Trezentas páginas depois, o romance conclui-se numa perspectiva maniqueísta: Mankell mostra os soviéticos como os maus da fita, decididos a impedir a independência letã e conotando os seus nacionalistas com as máfias da droga. Liepa morrera precisamente por ter arranjado provas dessa conspiração.
Em duas estadias sucessivas em Riga, a primeira como convidado das autoridades, a segunda enquanto clandestino, Wallander irá clarificar a culpabilidade dos assassinos do major Liepa e sentirá uma enorme pena de não levar consigo de regresso a Ystad a viúva Liepa, por quem, entretanto, se enamorou.
 Mas, mais do que a situação geopolítica abordada no romance, o que mais seduz em Wallander é a sua caracterização enquanto polícia deprimido, incomodado com a sua solidão e com a rejeição paterna do seu percurso profissional. Baiba Liepa poderia ser o seu anjo da guarda, mas quedar-se-á como foco amoroso vivido de forma meramente platónica...

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