segunda-feira, novembro 01, 2010

Filme: CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS de Marcelo Gomes

Brasil, 1942. Por estradas poeirentas o alemão Johann aventura-se, de aldeia em aldeia, para vender a aspirina, novo medicamento miraculoso de que é caixeiro-viajante.
Os seus métodos de venda não podiam ser mais eficazes: com uma máquina de projectar, mostra filmes promocionais a plateias maravilhadas com a novidade das imagens em movimento.
A guerra ficara para trás, quando conseguira embarcar num navio mercante, que o deixara no Rio de Janeiro em condição semi-clandestina. Agora vai dando boleia a alguns viajantes de ocasião, um deles, Ranulpho, se revelará mais persistente.
O filme de Marcelo Gomes, datado de 2005, baseia-se no relato deste Ranulpho, que decidira sair do seu seco Nordeste para procurar melhor qualidade de vida na capital. Para isso conta com a sua prodigiosa vontade de tudo aprender já se imaginando como colega do alemão na empresa farmacêutica.
Durante esse cirandar por terras permanentemente sobrevoadas pelos urubus, o desastre parece iminente. Como, por exemplo, quando Johann é mordido por cobra venenosa e passa dois dias e duas noites num delírio comatoso sempre vigiado pelo seu novo amigo.
Mas o desenlace precipita-se de outra forma: quando o Brasil declara guerra à Alemanha todos os alemães são coagidos a internarem-se em campos de concentração ou a serem recambiados para Berlim. Para o pacifista Johann, que ia acompanhando as notícias da guerra no rádio, quase sempre ligado, é a altura para se exilar nos seringais da Amazónia pelo que se despede de Ranulpho a quem oferece o camião.
Acaba assim esta reconstituição feliz de um tempo em que, como hoje, tudo o que se passa no mundo pode influenciar de forma determinante o nosso modesto presente.

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