O péssimo costume que os franceses têm de dobrar muitos dos filmes, que passam nos seus canais televisivos levam-me a evitá-los quase sempre, perdendo assim alguns títulos, que mereceriam uma atenta descoberta ou uma saborosa revisão. Mas, lá de longe em longe, faço uma ou outra excepção. Como sucedeu agora com os episódios dedicados ao inspector Wallander, criação do sueco Henning Mankell, cuja transmissão se iniciou na ARTE na passada sexta-feira.
É claro que preferiria ver Kenneth Branagh na sua voz própria em inglês, mas face às circunstâncias, forçoso me foi vê-lo na sua versão dobrada em francês.
É que as histórias de Mankell justificam bem a violação de um princípio quase axiomáticoporquanto os seus personagens são muito mais do que meros estereótipos destinados a corporizar um juízo moral ou ideológico. Têm carne e sentimentos, mesmo que muitas dessas emoções surjam recalcadas. Como as que dizem respeito ao relacionamento de Kurt Wallander com o pai pintor por quem sempre se sentiu depreciado na sua opção profissional e por quem acaba por sentir uma enorme empatia face à angústia em que o vê mergulhado perante a consciência de uma incontornável doença de Alzheimer. Ou também como as virtudes públicas de alguns figurões escondem vícios privados bastante recriminatórios. E o que aqui está em causa é a vingança de um rapaz, que viu a irmã ser uma das escravas sexuais de um punhado de pedófilos acima de qualquer suspeita.
Embora não substitua o prazer da leitura dos romances do escritor, os episódios da série com Kenneth Branagh servem de sólida introdução a uma obra literária merecedora de um maior reconhecimento...
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