Joaquim Sapinho decidiu ir para a Bósnia filmar a guerra terrível aí travada depois de rodar o seu jubilatório «Corte de Cabelo».
O que o atraiu a essa região devastada foi a consciência de como a felicidade pode ser um estado tão efémero e tão condicionado por factores que escapam totalmente ao controlo de quem a pretende viver. Ou, noutra vertente, o que significa ser muçulmano na Europa.
À chegada o realizador ainda não tem uma ideia concreta de como captar as suas emoções depressa focalizadas nas sensações de insegurança, de medo e do cheiro pestilencial da morte.
Em Srebenica esteve no limite da sua própria sobrevivência num cenário destinado a não ser filmado, porque todas as pessoas antes ali a habitarem estavam mortas. E mesmo contando com um homem como guia, que estivera igualmente envolvido em atrocidades. Mas que, por isso mesmo, forçara-o a relativizar julgamentos morais sobre o que ali se passara e ainda estava latente, porquanto, embora assinados, os acordos de Dayton não eram entendidos como solução duradoura para as crispações levadas ao seu máximo paroxismo.
Quando regressa a Lisboa, Sapinho traz cerca de cem horas de imagens. O que o obrigou a uma montagem morosa. Razão para que o filme só tenha estreado quase dez anos depois dos acontecimentos. Mas, ainda hoje, estão bem presentes as condições precárias em que todo o projecto se realizara, sem dinheiro e contando, sobretudo, com a ajuda de tantos jornalistas ali igualmente destacados.
Os traumas inerentes à experiência levam Sapinho a considerar-se, hoje, incapaz de voltar a rodar um documentário, preferindo universos ficcionais.
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