Grata surpresa a desta média metragem de pouco menos de uma hora, realizada por um brasileiro há muito radicado em Moçambique.
O universo não difere muito do descrito por Mia Couto existindo miúdos bastante desembaraçados quanto à capacidade de superarem todos os desafios colocados diariamente à sua sobrevivência, a par de uma ingenuidade colectiva já tão distanciada da sofisticada e cinzenta realidade dos ambientes do Primeiro Mundo.
Se há à sua volta os gangues de jovens delinquentes (os ninjas), a quem faltam escrúpulos, Paíto ostenta uma sólida vertente ética, decidindo só regressar a casa quando conseguir a farinha pedida pela mãe para cozinhar as farturas por ele comercializadas, depois de se ver espoliado do dinheiro por ela confiado para tal objectivo.
Durante dias, Paíto e o seu amigo, Xano, vagueiam pelos mercados de Maputo, ocupados nos seus pequenos negócios e roubos, no que constitui uma experiência iniciática na evolução para um estado de maior maturidade.
Depois Licínio de Azevedo cria imagens irónicas muito eficazes: o muro aonde se proíbem as necessidades e para aonde urinam filas de homens e crianças; a sapataria de um vendedor de pares desirmanados e por isso chamado Kadapé; o «salão de beleza» do próprio Paíto chamado «O Fruto do Meu Suor».
Pelo meio o realizador não deixa de deixar bem demonstrada a forma como tão desigual é a distribuição da riqueza na sociedade moçambicana.
Bem realizado e com actores capazes de darem credibilidade à história, «O Grande Bazar» acaba por demonstrar o enorme potencial de uma cinematografia colada a uma realidade multifacetada...
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